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Monday 30 May 2016

Ética - Parte I - Grega

Sempre importante é avaliar sobre valores elevados, que deveriam ser próprios a qualquer um de nós, mas que nem sempre ocorrem. A reunião desses valores pode ser resumida pelo termo "Ética". Considerando fatos ocorridos recentemente junto à profissão e ao conselho profissional que eu representava, cabe reflexionar. A profissão de Economista, a exemplo de todas as outras, é regida por uma lei, a 1.411/51, e a ela se soma uma resolução, a 1.628/1996, que normatiza nossa conduta e estabelece a nossa ética profissional. Mas antes é preciso estabelecer o que é ética propriamente dita.


Desde os primórdios civilizatórios ao presente, muito se ouve falar sobre o tema. Mas o quê é exatamente na prática ? Comecemos pela gênese do termo, que provém do grego "ethos", designando éthikéO termo pode ser escrito em grego de duas formas, cujos significados mudarão consoante a letra aplicada. Se êthos, com a letra grega eta inicial "η" (ἤθηremonta a Homero, século VII a.C., e designará uma forma de viver, a morada, um lugar permanente e habitual, um lugar elevado, conduzindo à raiz semântica da palavra que seriam os usos e costumes, estilo de vida e ação.  

Se éthos tiver seu início pela letra grega epsilon "ε" (ἔθος), será devida sua origem a Ésquilo, dramaturgo fundador da tragédia grega  (525-456 a.C.). E designa aproximadamente o mesmo, porém com a diferença fundamentalmente de que o sentido esteja ligado a um comportamento, uma tradição, no sentido do que é habitual, corriqueiro, usual, etc.   Ética, portanto, é uma transliteração de dois termos a partir de distintas letras gregas, com sutilezas semânticas em que uma designa a forma elevada de viver, e outra, o modo com base na tradição.

Seus expoentes foram Aristóteles, Sócrates, Platão, Epicuro e Sêneca. 

Na ética grega representativa desse primeiro período (399 a 270 A.C), a partir dos filósofos mencionados, vigora uma sociedade regida por princípios de uma aristocracia escravocrata. Os mais fortes, melhores e mais preparados (ou inteligentes) a governam. Não muito diferente do que ocorre nas sociedades atuais. A virtude presumia excelência de valores e ações, que se traduzia em fazer ou atuar de forma adequada e com justa medida. Nesse contexto, o bem ou o mal adquiriam significados distintos comparativamente aos tempos atuais, denotando distintas formas do que era justo e correto.

 
E Aristóteles (384-322 A.C.) introduziu um sistema de justiça que foi disseminado por inúmeros países do mundo antigo, influenciando as leis inclusive nos dias atuais, criando um sistema de justiça geral, a observância da lei propriamente dita, e outro particular, que objetiva realizar a igualdade entre quem age e quem sofre a ação, e sub-divide-se em quatro outras formas de justiça : - Distributiva, correlativa, comutativa e reparativa. Sua mais importante obra, Ética a Nicômaco, divide-se em 10 livros, e alicerça o direito como hoje o conhecemos em suas bases.


Platão e seu Mundo Ideal estipula que as idéias ou formas residiriam no mundo inteligível, fora do tempo e do espaço - e não no mundo sensível ou material. Mas que essa concepção do mundo inteligível produziria tudo o que é existente no mundo material, e segundo quatro propriedades elementares : - A espiritualidade, a realidade, a imutabilidade e a pureza.
  
Também Platão (428-347 A.C.), com sua Alegoria da Caverna estabelece um paralelo entre homens presos a uma caverna cuja única realidade conhecida do mundo são projeções de imagens de outros seres através da sombra pela luz de uma fogueira em seu interior.  Tenciona com essa metáfora conscientizar para a importância da superação da ignorância humana em relação ao mundo que nos cerca através do conhecimento filosófico e da educação.

Já a importância de Sócrates (469-399 A.C.) revela-se por meio do Método Socrático caracterizado pela Maiêutica (o conhece-te a ti mesmo, que induz uma pessoa, por seu próprio raciocínio, ao conhecimento ou à solução de sua dúvida), pela Ironia (levava o seu interlocutor a entrar em contradição, tentando depois levá-lo a chegar à conclusão de que o seu conhecimento é limitado). A Ironia é bem revelada através do "só sei que nada sei". No Método Socrático pode ser resumido como a elevação da ética e da arte de viver, em que o objetivo a ser alcançado na vida é a felicidade.  Não menos importante é seu julgamento, uma verdadeira aula que reúne a essência do que são valores, em que confrontou toda uma Atenas, gerando revolta e repulsa, sendo conduzido aos tribunais por seus excessos. Em disputada retórica contra sofistas, encarando de forma serena seu julgamento, poderia ter convertido sua pena (apregoada por Meleto) em ser alimentado no Pritaneu, enquanto fosse vivo, como herói ou benemérito da cidade. Porém, optou, para não trair sua própria consciência, pela sentença de morte, pelo consumo de sicuta.
Essa mesma sociedade, tempos após, deu origem aos Estóicos (155 - 3 A.C.), que reuniram elementos de crença de que a continuidade pós-morte se dava pela dissolução da personalidade no cosmo. Essa visão, pela influência de Zenão de Cítio, Sêneca, Epiteto e Cleanto introduziu aspectos menos rudes e objetivos à ética helênica ao aceitar a libertação da raiva, da inveja e do ciúme, e até mesmo a tratar os escravos como "iguais aos outros homens, porque todos os homens são igualmente produtos da natureza".  Assim Epíteto considerava ". . .  doente e ainda infeliz, em perigo e ainda assim feliz, morrendo e ainda assim feliz, no exílio e feliz, na desgraça e feliz", em oposição a Cleanto que manifestou que o ímpio é "como um cão amarrado a uma carroça, obrigado a ir para onde ela vai".

Finalizando essa primeira parte, Ética pode ser considerada todo um amplo conjunto de valores consubstanciados na dignidade, senso comum do que é justo e correto consoante nossos princípios e nossa moral, segundo o meio que nos cerca. Soma-se um hábito, uma prática sistemática de nossa conduta. Um propósito de busca incessante de conhecimento, impelindo-nos a romper os limites de nossas "cavernas".  É sobretudo uma forma de viver que nos conduz ao propósito de nossas vidas, a felicidade.

  
Eduardo Mendonça de Lima
Corecon-RS 6.502
Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é
avaliador de Empresas, perito judicial,  e docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia e Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS - 2010-2016.