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Monday 20 May 2019

Vamos falar sobre a China - Parte l - Geografia & Geopolítica

Introdução
A palavra "China" é derivada do persa Ci , que por sua vez é derivado do sânscrito Cina. Por sua vez é derivado de Qin, que significa “o mais ocidental dos reinos chineses” em virtude de sua aproximação com os reinos do leste da Índia, Tibet e Birmânia, uma vez que o termo Cina foi usado em duas escrituras hindus – o Mahābhārata, em  V a.C., e no Código de Manu, do século II a.C.. Pode ter se originado durante a dinastia Zhou (cerca de 1.046 a 256 A.C.) ou dinastia Qin (cerca de 221–206 a.C.), em que esta obteve repercussão bem sucedida.


Aspectos Geográficos
Shanghai
A República Popular da China-RPC é o terceiro maior país do mundo, detendo uma área de 9.596.961 km², dividido em 22 províncias. O governo ainda considera Taiwan como uma 23a. província, embora esta seja independente da China continental desde 1949.  A proclamação chinesa, enquanto República, ocorreu em 1o. de janeiro de 1912 e como "República" Popular (ou comunista) o foi em 1o. de outubro de 1949, adotando o atual nome.

Possui a maior população mundial, com 1,415,045,928 habitantes, com densidade demográfica média de 147,45 habitantes por km2.  A população ocupa 1/3 da área do país ao longo de 1.600 km de faixa litorânea. A maior parte dos restantes 2/3 do território são formados por desertos sendo, portanto, pouco ou nada habitados.

Ao norte faz fronteira com a Sibéria e estepes da Mongólia, áreas inóspitas, pouco povoadas e de difícil travessia; ao sudoeste apresenta a Cordilheira do Himalaia; ao sul faz fronteira com Myanmar, Laos e Vietnam, por meio de montanhas e florestas; ao leste está o Oceano Pacífico e a noroeste sua fronteira encontra o Cazaquistão.

Comporta 2,8% do total de água doce do mundo, onde podem ser citados os maiores rios de seu território :

● Yang Tsé, com .5.520 km, navegável;

● Yalu, com 795 km, navegável;

● Amarelo (Huang He), com 4.672 km, navegável;

● Amur, com 2,824 km, navegável, fronteira com a Rússia, a nordeste;

● Xijiang (Hsi Kiang), com 1,957 km;  

● Lancang (Mekong), total de 4.350 km (cerca de 50% em território chinês).

 

As cidades mais importantes, com população (em milhões) são Chogqing  (30,166), Shanghai (24,183), Beijing (21,707),  Guangzhou (13,081), Chengdu, Shenzhen (12,528), Tianjin (11,249), Dongguan (10,615), Foshan (9,279), Chengdu (9,012), Shenyang (8,106), Wuhan (8,035), Ningbo (7,606), Nanjiing (7,260), Hangzhou (7,035), Dalian (6,690), Xian (6,220), Suzhou (5,983), Qingdao (5,930) e Harbin (5,299).

O país possui um grande deserto, Gobi, a noroeste do país, cuja área, de cerca de 1,3 milhão de km², é composta de areia e solo rochoso, englobando também parte da Mongólia. A temperatura nessa região varia, em média, de mínimas de -40°C (janeiro) a máximas de 45°C (julho). 

O país possui amplos recursos minerais por quase todo o território (Mapa 01). São elementos normalmente encontráveis em áreas desérticas. Mas no caso chinês o predomínio de Elementos Terras Raras – Rare Earth Elements-REE ocorre com maior concentração e minas de exploração na parte leste do páis, do sudeste ao nordeste do país.  São detidas, se e somente se REE, cerca de 94% das reservas no mundo, excluindo-se depósitos de outros minerais também importantes, os quais perfazem entre 44 e 55% das reservas mundiais. Em 2017 o país foi responsável por 81% da extração de REE. São normalmente empregados em tecnologias e nanotecnologias de baixo carbono, nos ramos de eletrônicos e Informática, lasers, fibras ópticas, indústria bélica, aeroespacial, metalurgia, refino de petróleo, engenharia de motores elétricos e baterias, vidros, cerâmicas, energia nuclear, aplicações na área de saúde e química (fertilizantes e tratamentos de água) e biotecnologias.

Mapa 01
Recursos Minerais


Aspectos Geopolíticos
A China, historicamente, não é um país agressivo. Pelo contrário, revela-se como um país de natureza reservada, como se uma ilha o fosse. Sua geografia naturalmente contribui para isso, uma vez que é rodeada por terrenos intransitáveis como montanhas, desertos, florestas e terras incultiváveis, fazendo que se torne isolada do resto do mundo. A geografia de isolamento age sobre a população, causando um comportamento de reserva e recolhimento naturais. Essa característica fez com que em sua história o país só fosse conquistado territorialmente, em sua totalidade, uma única vez, pelos mongóis, no séc. Xll (de 1219 a 1279).

Esse comportamento reservado da população, fruto de sua geografia, refletiu em termos agregados, no envolvimento de caráter intermitente do país com o resto do mundo ao longo dos séculos. Um desses contatos foi mediante a Rota da Seda (1), uma vez que, com a entrada dos europeus no séc. XVl, encontraram um país unificado, num período isolacionista, porém muito depauperado. Porém viram chances de comércio, que irrompeu de forma intensa, gerando aumento dramático de riqueza nas regiões litorâneas do país, quer pelos investimentos estrangeiros europeus quanto pelo comércio internacional.  Isso fez com que surgisse uma desigualdade imensa entre o litoral e o interior do país.

E isso originou um enfraquecimento do controle do governo central sobre as regiões litorâneas, redundando em instabilidades e caos, pois o litoral passou a preferir o contato com os europeus, inclusive aceitando subordinação em muitos casos. Esse período durou do início do séc. XIX até a tomada do poder pelos comunistas, em 1949. Mao Tsé Tung pretendeu inicialmente fomentar sua revolução pelas regiões litorâneas, tendo, obviamente, fracassado. O que deu início à Grande Marcha pelo Interior, juntando um exército de camponeses pobres, travando uma guerra civil com o litoral, vencendo-a. Com a insubmissão das regiões litorâneas, foi implantada uma “Revolução Cultural” no país, que levou ao assassinato de aproximadamente 80 milhões de chineses pelo regime comunista, seja pela fome (em bases similares ao Holodomor ucraniano, que teve cerca de 7 milhões de mortos), seja por fuzilamentos.

Até a morte de Mao, o país permaneceu unificado e em segurança, porém isolado e pobre. O sonho chinês, um país próspero com o comércio internacional, passou a ser novamente buscado pelos integrantes do partido, e Deng Xiaoping, sucessor de Mao, assim o fez, assegurando-se de que outros países não sobrepujassem o país em desvantagem econômica, tampouco divisões internas. O país investiu em produtos baratos e a riqueza novamente retornou às cidades litorâneas, destacando-se Shangai, embora continuasse o interior empobrecido. As tensões continuaram, mas com certo equilíbrio e sob controle do governo central, tendo assim permanecido até aproximadamente 1989.

As revoltas ocorridas na Praça da Paz Celestial, ocorrido em 04jun1989, onde foi reputado à época, por agências internacionais de notícias, ter havido um massacre com a morte de 10 mil chineses promoveu fortes mudanças na conduta do Partido Comunista Chinês, e Pequim passou a mudar sua política interna visando uma transferência gradual de recursos das regiões litorâneas para o interior, como forma de contra-balançar as desigualdades internas, buscando um equilíbrio em todo o território do país.
O rebelde desconhecido (o soldado
 condutor do primeiro tanque, que parou, foi
fuzilado pouco depois por insubordinação)
 


Porém, o empresário de Shangai fomenta ligações com Londres, Los Angeles, Nova York, e mais recentemente, Dubai e Abu Dhabi, com os quais ganha dinheiro, muito mais do que relacionamentos com o governo central, em Pequim.  Nesse ínterim, quanto mais Pequim tentar controlá-lo, mais o empresário chinês recorrerá às potências estrangeiras com quem realiza comércio para que venham em sua defesa.  Para mais além dessas questões, a China sustenta-se em virtude de seu comércio internacional, não pela ideologia.  De outro lado, o interior pressiona o governo central para que force o litoral a repassar-lhes mais dinheiro. Pequim acaba parecendo um gigante tentando segurar por cordas as forças de tração de dois cavalos em sentidos opostos. Ou esmorece e perde o controle, ou reforça sua intervenção e isola o país. O regime comunista baseava-se em dois pilares, sendo que um terceiro já é considerado inexistente  : - 1 - Sua burocracia; 2 – Suas forças armadas, que mantém o Estado agigantado e os desejos do Partido Comunista chinês; 3 – Os princípios ideológicos do PC, que já desapareceram.

Em outras palavras, mutatis mutandis, a China sustenta-se em função de seu dinheiro obtido com o comércio internacional; não mais em virtude de ideologia. Dessa forma, são três os possíveis caminhos para seu futuro : 1 – Crescimento econômico a taxas elevadas por um longo prazo; 2 - Recentralização do comando e controle; e 3 – Fragmentação regional em virtude de enfraquecimento do poder central.

No primeiro cenário, nunca em nenhum momento da história da humanidade nenhum país jamais conseguiu manter taxas econômicas de crescimento por tempo demasiadamente prolongado, mesmo porque isso contraria pressupostos de racionalidade e dinâmica econômicas.  Embora a China tenha conseguido elevadas taxas de crescimento de meados da década de 1990 até aproximadamente 2015, hoje verificamos que seu fulgor já não é o mesmo, recrudescendo de níveis de 11% para hoje em torno de 5 a 6%.

No segundo cenário, no caso de desaceleração econômica ou mesmo uma recessão, os interesses dos empresários acabarão conflitando tanto entre sí quanto em relação ao governo. E este tenderá a aumentar sua interferência e controle. Porém, dentro do próprio governo central existem conflitos entre aqueles que desejam enrijecer a presença estatal e aqueles para os quais uma centralização não se adequa mais perante o cenário mundial, o que faz com que este cenário de recrudescimento, controle e maior presença do governo central seja difícil de se concretizar. O retorno do caráter isolacionista, permeado de ideologia comunista não mais se justifica, tampouco os chineses acreditam mais nesse modelo. Se vier a ocorrer, somente o será em bases nacionalistas, sem ideologia.

Resta-nos, portanto, um terceiro cenário, e o mais provável, o de fragmentação regional. Considerando que toda economia passa em algum momento por situações de incerteza e/ou esgotamento do modelo adotado (matriz econômica), ou até mesmo recessão, isso acabará gerando tensões internas. Esse recrudescimento econômico seguido de fragmentação interna beneficiaria as classes mais ricas e investidores estrangeiros. Esse cenário seria idêntico àquele encontrado antes de Mao, e compatível com a realidade e história chinesa, com competição (e até possíveis conflitos) entre as diferentes regiões (litoral x interior; norte x sul), com o governo central esforçando-se na manutenção do controle.

Isso posto, a ideologia serve unicamente ao atendimento da agenda da Internacional Socialista (2), fustigando intervenções em países de terceiro mundo, via guerrilhas armadas (principalmente países africanos e do Oriente Médio), via marxismo cultural através de universidades e meios de comunicação de massa, com o propósito único de fomentar regimes socialistas que venham, posteriormente, a assegurar acesso a recursos naturais, como terras agricultáveis (3) para a produção e remessa de alimentos aquele país, minérios (ferro, cobre, alumínio, cobalto, como os principais), madeiras e petróleo.

(Continua)


(1) - De início impreciso. Reputa-se que tenha tido seu começo a partir da importação de animais da Ásia e Oriente Médio pelo Egito, como camelos e cavalos, em cerca de 7.500 a.C.. Também são identificadas, desde e entre 4.000 a.C., importações egípcias de cananeus e sírios, como artefatos variados, cerâmicas e conceitos de construção. Houve também o comércio de lápis-lazúli, do Badaquistão (noroeste do Afeganistão) para a Mesopotâmia, Egito, Paquistão e Índia. Também desde 3.500 a.C. foram utilizadas rotas que acompanhavam a  Estrada Real Persa (construída em 500 a.C.). Foi intensificada por diferentes rotas marítimas ao longo de toda a costa asiática e do Oriente Médio, pelo Oceano Índico, a partir de 1950 a.C., com os Egípcios. Com os Romanos, até aproximadamente 1400. O apogeu da rota da seda correspondeu ao império Bizantino (Ou Império Romano do Oriente, de 395 a 1453). Com o advento da pólvora, modernização rápida da Europa, ascensão política de Estados organizados e florescimento do Mercantilismo, houve declínio comercial na Rota da Seda, que enfraqueceu o Império Mongol, promovendo sua sua desintegração. O fim da Rota da Seda ocorreu aproximadamente no ano de 1.400.

(2) - Organização política organizada na forma de fóruns de discussões e idéias para a disseminação da ideologia comunista, e ocorre periodicamente em diferentes países, reunindo cerca de 145 partidos políticos em mais de 100 países visando consolidar e desenvolver políticas socialistas pelo mundo. É considerada uma ONG (Organização não governamental) e conta com status consultivo Categoria l pelas Nações Unidas - ONU
;

(3) - Detendo cerca de 10% das terras aráveis no mundo, mas 1/5 da população mundial, e a partir do aumento da renda per capita chinesa, que promoveu uma mudança na dieta dos chineses, como maior consumo de carne e aumento na variedade de grãos consumidos, o país vem adquirindo terras agricultáveis em ritmo intenso em países da América Latina, sudeste asiático e África. São países como o Brasil, Argentina, Chile, Moçambique, Nigéria, Zimbábue, Camboja e Laos, Austrália, entre outros. Desde 2010 os investimentos somam cerca de US$ 94 bilhões e cerca de 9 milhões de ha em diversos projetos tanto estatais quanto privados, 
em fazendas de cereais, soja, cultivo de frutas, vinhedos, plantações de algodão ou criação de gado, bem como fábricas de processamento de alimentos (em alguns casos, como subterfúgio jurídico para acesso às terras propriamente ditas, em países que apresentem restrições ao acesso de investimentos estrangeiros)


Referências :
http://www.cadtm.org/An-Overview-of-Chinese-Debt
https://www.spglobal.com/en/research-insights/articles/credit-trends-demystifying-china-s-domestic-debt-market
http://www.eai.nus.edu.sg/publications/files/EWP150.pdf
https://data.worldbank.org/country/china
https://www.bloomberg.com/quicktake/chinas-debt-bomb
https://www.thebalance.com/what-are-derivatives-3305833;
https://www.elblogsalmon.com/conceptos-de-economia/que-son-los-derivados-financieros
https://www.globalfirepower.com/countries-listing.asp
https://www.cartacapital.com.br/internacional/vem-ai-a-internacional-progressista
https://www.focus-economics.com/countries/china
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_external_debt
https://www.khanacademy.org/economics-finance-domain/core-finance/derivative-securities
https://www.un.org/development/desa/dpad/wp-ontent/uploads/sites/45/publication/WESP2018_Full_Web-1.pdf
https://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/hong-kong-joia-do-imperio-britanico-devolvida-china-em-1-de-julho-de-1997-14107509
https://pt.wikipedia.org/wiki/Taiwan#Regime_unipartid%C3%A1rio
https://internacional.estadao.com.br/noticias/nytiw,enquanto-china-impede-emprestimos-crescimento-mostra-sinais-de-hesitacao,70002366219
https://pt.wikipedia.org/wiki/China
http://www.worldometers.info/world-population/population-by-country/
https://ig.ft.com/sites/numbers/economies/china/
https://data.worldbank.org/country/china
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_cities_proper_by_population
https://en.wikipedia.org/wiki/Rare-earth_element#Geochemistry_applications
https://www.theverge.com/2018/4/17/17246444/rare-earth-metals-discovery-japan-china-monopoly
https://internacional.estadao.com.br/noticias/nytiw,divida-de-paises-da-africa-com-a-china-nao-para-de-  aumentar,70002624222
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2139
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2621
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2736
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2969
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rota_da_Seda
http://www.internacionalsocialista.org/about.cfm
https://istoe.com.br/china-compra-terras-no-exterior-em-ritmo-voraz/
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1868&ac=91230
Friedman, George 
     Os próximos 100 anos : uma previsão para o século XXl / George Friedman; tradução : Gabriel Zide Neto. - Rio de Janeiro : Best Business, 2009. ISBN 978-85-7684-356-6




Eduardo Mendonça de Lima
Ex-Aspirante a Oficial pela PMDF, Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é avaliador de Empresas e perito judicial. Foi docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS - 2010-2016.

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