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Thursday 16 August 2018

Turquia e sua crise da dívida


O mundo está novamente em turbulência : Dessa vez o problema provém da Turquia. Em meados de 2017 economistas norte-americanos alertaram para nova instabilidade financeira nos mercados (leia aqui). Haviam previsto para em torno de abril de 2018. Entre dezembro e fevereiro de 2018  foram observadas reações nos mercados da China e Estados Unidos. 

Com respeito à Turquia, o problema não se restringe ao atual momento e os atritos estabelecidos com a guerra tarifária com os EUA. Mas muito antes. Seu atual presidente, Recep Tayyip Erdoğan, havia assumido como primeiro ministro em 2003, assim permanecendo até 2014, quando então assumiu a presidência após pleito eleitoral. Embora tenha promovido reformas no país como pré-requisito à aceitação na União Européia, o que susteve e ainda mantém razoavelmente bem a economia são os Investimentos Externos Diretos (de US$ 42 bi - 2017). 

Comparativamente ao Brasil, boa parte de suas estatísticas revelam um quadro satisfatório  (porém, não do ponto de vista de países com boa administração pública – para nós, o estado crítico já foi tornado comum há décadas).  Sua força de trabalho é de 31 milhões face 81 milhões de habitantes, e sua pirâmide populacional ainda apresenta a base aproximadamente alargada, não promovendo, ainda, problemas previdenciários. O PIB em 2017 atingiu US$ 851 bilhões, e vem se recuperando desde 2013, quando atingiu US$ 950 bilhões. (1)

A poupança interna é de 25% do PIB, a indústria representa 32% PIB, o endividamento total está em 29,6% PIB (baixo), a carga tributária é de 21% PIB, e a força do trabalho vem 27% da agricultura e 18,5% da agricultura. 

É um país que depende de exportações de commodities, cujo movimento de longo prazo é de queda, embora venha ocorrendo lenta recuperação desde janeiro de 2016. Seu saldo comercial é  deficitário em cerca de US$ 40 bi (2017), o que, junto com a significativa parcela de mão de obra empregada na agricultura ajuda a promover elevada desigualdade social, onde os 10% mais pobres detém 2,1% da riqueza, enquanto os 10% mais ricos, 30,3%. 

A taxa anual de juros subiu, e está em agosto de 2018 em 17,75% ante 15,2% (de dez2017 - nada que se compare aos nossos 457% em média de cartão de crédito – ou 15,38% a.m.). 

O contra-golpe de Erdogan em resposta à tentativa de golpe pelos militares, que visavam defender princípios constitucionais e deter a corrupção de seu governo, em 15 de julho de 2016, fez com que fosse acelerado o processo socialista no país, aumentando a insegurança jurídica e gastos de governo, que estão em elevação contínua em relação à receita (US$ 39 bilhões de déficit), que precisam ser financiados por emissão de títulos, cujo valor de mercado vem caindo desde 2013, de US$ 195 bi para US$ 189 bi em 2015. O que faz com que o país tenha a 29ª. maior dívida entre os países, cerca de US$ 430 bi. 

Tudo refletindo numa inflação que fechou 2017 acumulada em 11,92%. O acumulado em 2018 alcança 9,16% até junho. Porém, a partir de julho é observado comportamento descontrolado, e sua projeção anual agora já atinge 101% (1). Decorre em grande parte, além dos riscos associados com a incerteza, gerando expectativas, em razão da forte desvalorização da moeda, que presentemente vale em torno de 6,05 liras, contra 2,19 em 2013 (com base em US$), o que recrudesce o consumo e piora o desemprego, que atingiu 17,8% em maio último.  

Vale ressaltar que o desemprego passou de uma média oscilante histórica na década de 1990, que se situava em 15%, para o patamar de 20% a partir do ano 2000. Em termos gerais apresenta uma oscilação histórica que carrega em sí um componente sazonal associado ao setor agrícola, do qual a economia é fortemente dependente. Mas a oscilação dos últimos 18 anos apresenta variações mais acentuadas, estando mais fortemente associadas às mudanças políticas do país. 



Especificamente no tocante à crise, já existe a certeza de que 25% do total de títulos especulativos em Credit Default Swaps - CDS (2) - não serão honrados pelo mercado. 

A maior parte da dívida se concentra vários bancos europeus, e somente o espanhol BBVA detém 50% do capital do segundo maior banco privado turco, o Garantí, que por sua vez é um dos maiores compradores dos títulos daquele governo. Os espanhóis compraram cerca de US$ 82,3 bilhões de títulos turcos. Grande parte desses investimentos são visando futuras aposentadorias.

Em 10 de agosto do corrente, foi verificada uma corrida aos bancos para saques em moedas estrangeiras nos três principais bancos turcos, que solicitaram prazo aos clientes por falta de recursos imediatos, que tiveram de ser solicitados às respectivas matrizes.

Já as empresas do país estão elevadamente endividadas em moedas estrangeiras, em cerca de 40% de suas respectivas produções anuais. Em 2017 os maiores grupos empresariais do país tiveram de reestruturar suas respectivas dívidas, em cerca de bilhões de dólares, sendo que este movimento continua em ascensão. Das empresas, o endividamento passa para os bancos. Importante frisar que de janeiro ao presente agosto, as ações dos bancos turcos já perderam 36% de seu valor. Tal desvalorização acentua ainda o cenário de risco, uma vez que para continuarem rolando suas dívidas necessitam de novos empréstimo, que só vêm sendo obtidos no mercado europeu (principalmente em Londres) mediante consórcio entre dois ou mais bancos.

Em suma, a crise vem de longo tempo, desde que o país iniciou sua jornada socializante, em 2003. Com o contra-golpe em 2016 e o acirramento das questões políticas, a economia do país entrou em processo de desequilíbrio, onde o aumento dos gastos do governo passou a gerar desconfianças e riscos de longo prazo percebidos pelos agentes, que responderam, principalmente nos últimos meses, com  fuga massiva de capitais, desencadeando uma crise monetária que agora se transformou em uma crise de dívida e liquidez. 

Culpar Trump por aumentar tarifas alfandegárias a seus produtos, bem como aos "especuladores", ou mesmo o capitalismo, pelas desgraças originadas pelo viés comunista, é o comportamento natural de todos os ditadores.




(1) - Projeção de Steve Hanke, Economista e professor - Instituto John´s Hopkins / Senior Fellow & Diretor da Troubled Currencies Project / Cato Institute e Forbes / FX Commodities Trader / Reagan White House Alum


(2) - Credit Default Swap, ou simplesmente CDS, trata-se de um ativo financeiro de proteção em que um investidor é remunerado quando ocorre o default (não pagamento de uma dívida ou empréstimo) de uma instituição enumerada no contrato.  Quando ocorre, o emissor do CDS responsabiliza-se pelo pagamento ao portador desse contrato. O preço de um CDS está relacionado com a probabilidade dessa instituição não pagar as suas dívidas. Quanto maior o risco de crédito da insituição especificada, maior o valor do CDS; e quanto menor o risco de crédito, menor o valor do CDS. Os CDS se originaram em 1990 como forma de seguro por parte de companhias petrolíferas, devido ao acidente ambiental provocado pelo derramamento de petróleo provocado no Alaska pelo petroleiro EXXON Valdez, em 1989. Está inserido no arcabouço dos derivativos, e em conjunto com outros ativos financeiros "tóxicos" e exóticos, é conhecido como "Mercado nas Sombras".  O montante mínimo para cada operação é de US$ 10 milhões, e o mercado global de CDS foi estimado em março de 2017 em torno de US$ 800 trilhões. O total de derivativos, estimado pelo BIS - Bank of International Settlements,  corresponde a US$ 700 trilhões, sendo o total desse mercado a soma dos dois valores, cerca de  US$ 1,5 quadrilhão. 


Referências :
https://countryeconomy.com/gdp/turkey
https://magnet.xataka.com/preguntas-no-tan-frecuentes/turquia-problemas-crisis-economica-peor-que-grecia-2008-frente-presidente-asfixiante?utm_source=elblogsalmon&utm_medium=network&utm_campaign=repost
https://www.theguardian.com/business/live/2018/aug/13/turkey-financial-crisis-contagion-fears-hit-markets-as-central-bank-takes-action-business-live
https://cincodias.elpais.com/cincodias/2018/08/10/mercados/1533922660_265960.html
https://www.elblogsalmon.com/conceptos-de-economia/que-son-los-credit-default-swaps
https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-08-10/turkish-lira-collapses-as-investors-panic-before-erdogan-address
https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/tu.html
https://www.cnbc.com/2018/08/14/turkey-annual-inflation-rate-is-running-at-an-estimated-101-percent.html
https://www.ibtimes.co.uk/alchemy-derivatives-market-could-trigger-next-global-financial-crisis-1613137



Eduardo Mendonça de Lima
Ex-Aspirante a Oficial pela PMDF, Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é avaliador de Empresas, perito judicial e docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS - 2010-2016.

Tuesday 20 March 2018

Desindustrialização brasileira : Gato preto ou branco ?




Em 02abr, na Assembléia Legislativa do RS, terá início um evento promovido pela UFRGS-ILEA. Alguns palestrantes : Tarso Genro, Stédile, Requião, Renato Rabelo, Miguel Rosseto, Manuela D´Ávila, Jaqueline Moll. Essas criaturas, e outras mais, falarão sobre desenvolvimento nacional e suas perspectivas. Uma ante-sala do que almejam em termos de políticas comunistas acaso se sobressaiam nas eleições; uma espécie de “grande salto para o futuro”. 















O que de fato precisaria ser seriamente debatido, por cabeças lúcidas e preparadas, é o movimento em queda da indústria nacional. Nos anos JK a participação da indústria na formação do PIB representava ao redor de 11%. Entre o regime militar e meados de 1980 atingimos o pico, de cerca de 28%, momento a partir do qual vimos regredindo gradualmente. 

O setor esboçou uma reação no governo FHC, passando de pouco mais de 15% para 19,2% em 2004. Porém rolou ribanceira abaixo nos 13 anos de PT. Obviamente, esse comportamento é tendência mundial. Países industrializados também vêm experimentando queda, com participação oscilando entre 12% a 20%, com média de 16%. O setor industrial brasileiro atualmente está em cerca de 11%. Portanto, a correlação entre um crescimento estagnado de PIB e uma participação decrescente da indústria é direta. E o país pouco poderá esperar quanto a maiores taxas de crescimento futuras acaso não promova medidas concretas para atração de novas indústrias de grande capital estrangeiro, novos investimentos por parte das grandes indústrias nacionais ainda existentes e favoreça o empreendedorismo em estratos populares. 

Há de se destacar, porém, que essa queda se deve em grande medida a que o setor de serviços sofreu brutal incremento devido à inovação produzida pela internet e comunicação celular surgidas na década de 1990. Nesse sentido, e ainda com acréscimos da nanotecnologia, robótica, mecatrônica, biotecnologia e Terras Raras, a engenharia das coisas está cada vez mais se especializando em componentes menores, onde já não são necessárias grandes instalações e contingentes braçais de funcionários, mas, ao contrário, pequenas áreas e poucos funcionários. Porém empregados com grau elevadíssimo de instrução e especialização. 



No lado econômico, estamos finalizando um ciclo em que ainda predomina um padrão privado de negócios (ou liberal, de livre comércio), iniciado em 1982. Antes dele vigorou um padrão público de negócios, com predomínio de investimentos de governo, que iniciou em 1929 (e antes disso, por igual período, fora privado também). Logo, a cada ciclo de aproximadamente 51,6 anos há uma alternância entre a origem do capital, se público ou privado. Este período de alternância que rege a economia é a soma de seis ciclos menores de 8,6 anos cada (ou 3.141 dias - obtido a partir de 𝚷 x 1.000), relacionados ao modelo ECM - Economic Confidence Model, desenvolvido por Martin A. Armstrong. Essa teoria é baseada a partir de uma lista de 26 pânicos financeiros históricos ao longo de 224 anos, entre 1638 e 1907. Este ciclo não deve ser  confundido com o ciclo de Kondratiev, de aproximadamente 54 anos. 


Portanto, falar-se em capitalismo ou socialismo, na atual conjuntura, soa obsoleto, haja vista o socialismo chinês ser capitalista, assim como os capitalismos norte-americano e Inglês (Brexit), estarem apresentando guinada protecionista. Devemos cada vez mais articular o termo “hibridismo econômico”. O início de um novo ciclo público, esperado para 2025/30, decorre de que governos necessitarão atualizar suas infra-estruturas, principalmente o Ocidente (aí incluído o Brasil), em oposição às estruturas modernas de Japão, China, Coréia do Sul e alguns países árabes proeminentes, assim como prover pesados recursos para a área espacial, bem como investimentos em estruturas de armazenamento hídrico (um problema que bate à nossa porta). 



Outro ponto repousará na necessidade de governos proverem um subsídio mensal às pessoas, em virtude de que centenas de milhões perderão seus postos de trabalho para humanóides. A previsão é de que isso ocorra a partir de 2025, em atividades básicas ou de risco (como mineração e policial), ou em atividades rotineiras (na indústria, agricultura, serviços, medicina, enfermagem, transportes, aviação, atividades públicas). Essa mudança será  crescente, e com  aperfeiçoamentos e implementação de inteligência artificial deverá atingir também os postos de maior complexidade laboral.  Nossos "cabeça de jerimum" ainda sonham com a tomada gloriosa (assassina e desastrosa) do poder, sem perceber que o século XXI urge em ações pela continuidade da espécie para o século seguinte. Mao Tse Tung disse : “Eu não ligo se o gato é preto ou branco, contanto que seja bom em pegar ratos”




Eduardo Mendonça de Lima
Aspirante a Oficial pela PMDF, Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é avaliador de Empresas, perito judicial e docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS - 2010-2016.







Thursday 9 November 2017

O ciclo da política nacional

De 8 em 8 anos o país depara-se consigo, buscando um salvador. Cada cenário é pior que o anterior, em que se acreditava ter atingido a lama. O regime militar, por seus 20 anos, teve altos e baixos. Foi um momento de grande pujança econômica, com fortes alianças com Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, países que em grande medida impulsionaram o desenvolvimento do país tanto pela importação de equipamentos para nossa indústria de base e setor industrial em geral, quanto pelo aporte de recursos de capital estrangeiro produtivo, via implantação de multinacionais. 

Dessa forma, considera-se que sequer se aproximou ou pode ser comparado com a desordem política, institucional e estagnação econômica produzidas ao longo dos demais governos democráticos que o sucederam, em especial a Era PT e sua Nova Matriz Econômica, que levou o país ao colapso pelo qual estamos passando. 


A estabilidade jurídica e ordem institucional assegurou em grande medida que isso se efetivasse. Suas falhas foram a manutenção da economia fechada ao plano internacional e herança inflacionária. 
   


Uma série de vídeos vêm sendo postados pelo jornal Estadão, sob o título “A Reconstrução do Brasil : O que é fundamental”. Saúde, educação e segurança e reformas : Correto ! Mas saliento que, ainda que o novo salvador foque nesses temas, faremos novo vôo de galinha (caso não seja lula e outros, que prometem cubanizar com afinco dessa vez). E os problemas persistirão. 

Nossa malfadada constituição analítica de 1988 é socialista, e o estado de coisas presenciado decorre em grande parte desse elefante branco que ela criou (e que continua crescendo), o agigantamento estatal. O ponto de partida para uma mudança, de fato, é jogá-la no lixo, e produzir outra, sintética, prescrevendo diretrizes essenciais, focadas numa república parlamentarista, com direitos e deveres básicos, defesa sagrada da propriedade privada, bem como previsão de mecanismos republicanos de defesa contra tiranias mascaradas de democracia. 

Para demais questões específicas, normas infra-constitucionais tecendo Estado apenas necessário, proibição de sindicatos, previdência individual e capitalizada, livre comércio e facilitação a um ambiente de negócios internos e externos, proibição de exportação de commodities sem processamento industrial, ausência de estatais e autarquias, tributação simplificada e com carga até 20%, arrecadação privilegiando os municípios, previsão forçada de investimentos em educação, saúde, saneamento e defesa. 

Se tudo fosse integralmente efetivado, num período de 10 anos seriam observados progressos significativos, e, o mais importante, em caráter permanente, deixando 40 anos de pasmaceira para trás. Obviamente, abolir a atual constituição de 1988 em proveito de uma como acima enumerada, além de medidas pró-mercado, formam um cenário utópico ! E contrário à própria utopia socialista que gradualmente temos experimentado desde 1988. Pois o grau de ruptura que seria necessário é impraticável !  

Porém, cabe frisar, por perfeito e preferível que fosse, pouco dele se poderia obter com a atual corrupção política que está espraiada, e que é pré-existente em boa parcela da nossa sociedade. Em sentido contrário, tampouco, com uma sociedade integralmente proba, não seria de todo ruim o pior sistema político e econômico imaginável, se assim fosse possível, de onde ainda se poderiam extrair alguns bons resultados, ainda que insuficientes. 

A questão a ser tratada, nesse ínterim, são eficiência, eficácia e incentivos. O livre mercado, considerado eficiente, ainda que com suas mazelas, induz o cidadão à idoneidade pelo esforço pessoal, o que se traduz pelo mérito. Ele sabe que depende apenas dele, e que precisa obter lucro em suas ações. Para tanto, precisará agir corretamente para tudo, porque isso tanto ser-lhe-á exigido, quanto pela concorrência com os demais iguais a ele. A premiação será o acesso ao conforto material, que ele sabe estar assegurado, porque em seu país há segurança jurídica, estabilidade econômica e ampla inovação no mercado. Ao passo que o socialismo, em sentido oposto, induz, em virtude da burocracia que produz, à proliferação da malandragem e desonestidade, por razões de sobrevivência (econômica, política, funcional, institucional e judicial). 

Até mesmo os incentivos, para um e outro lado, agem de formas opostas. No séc. XIX, enquanto ainda não havia meios de se romper com a escravidão, observava-se elevada mortalidade, acima de 30%, e condições desumanas de tratamento, nas rotas de navios para a américa e Austrália. Foi mudada a forma de pagamento a capitães de navios negreiros. Em vez de ocorrer na origem, passou a sê-lo no destino, com incidência de desconto para cada escravo morto. Isso fez com que o tratamento melhorasse, assim como a alimentação, e a mortalidade foi reduzida a quase zero. 

No Brasil o empresário é pouco incentivado a inovar, mas muito a sonegar, por razões tanto de sobrevivência quanto por um mecanismo chamado REFIS, que parcela em 100 vezes ou mais sua dívida, sem juros. Já parlamentares, a emendar projetos de lei criando programas de duração infinita, para assim obterem acesso a recursos orçamentários. Assim como traficantes são compelidos às drogas e tráfico de armas, haja vista o retorno financeiro vis a vis o risco prisional. Portanto, ao não termos como romper drasticamente com a tendência de crescimento continuado Estatal, é preciso que sejam trabalhados aqueles meios (incentivos) que permitam o surgimento e crescimento das empresas, e com elas, dos empregos, pois são a fonte dos recursos de governo. Em 2018, terá grande margem de vitória o candidato que assim propugnar. 



Eduardo Mendonça de Lima
Aspirante a Oficial pela PMDF, Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é avaliador de Empresas, perito judicial e docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS - 2010-2016.



Wednesday 14 June 2017

Mercados financeiros mundiais - Novo estouro de bolha ?

Uma fissão nuclear ocorre a partir do bombardeamento de um nêutron de um átomo contra seu núcleo, que faz repartir o átomo em duas partes, que vem a se chocar com outros dois, prosseguindo até o
processo entrar em colapso. Uma nova bolha financeira mundial está se formando em diversos mercados financeiros, cujas previsões vêem um limiar para entre fins de 2017 e primeiros meses de 2018. Os economistas Mohamed A.El Erian e o suíço Marc Faber (também investidor), e os financistas norte-americanos Bill Gross e Jim Rogers, antevêem esse colapso.

El Erian
Minhas impressões pessoais ? Vamos a elas. Há alguns dias o espanhol Banco Popular (6o. maior) quebrou, em que autoridades monetárias forçaram o Santander a comprá-lo para que se evitasse o pior. A crise na Espanha persiste, enquanto agora recaem sobre títulos do governo italiano, num montante de US$ 1 trilhão. 

Marc Faber
Bancos italianos atingiram seu limite na absorção desses títulos, possuindo uma dívida conjunta de € 235 bilhões (US$ 263 bi), ficando a outra parte em dominância do Banco Central Europeu, BCE, que também já parou de comprar tais títulos. Outra questão diz respeito à China, que mesmo após a crise de 2008, impingiu política de crescimento forçado à base de endividamento, onde um dos muitos resultados foi o surgimento de inúmeras cidades fantasma pelo país, para que se mantivesse o setor de construção civil empregando mão de obra. 

Jim Rogers
Seu mercado bancário, investimentos e exportações foi (e vem sendo) uma cópia fiel do que fez o Japão na década de 1980, onde a cultura da amizade e compadrio, como critério de avaliação de empréstimos a empreendimentos e negócios, próprio da cultura asiática, prevalecia sobre questões técnicas. Em 1991 o Japão enfrentou um colapso financeiro que eclodiu por toda a Ásia. O país encontra-se recessivo (comparativamente ao que desempenhava antes de 1991), mas em recuperação, até os tempos atuais. 

William (Bill) Gross
Nos EUA, o mercado financeiro participa na economia em cerca de 8% do PIB, sendo que em 1947 era de 2,5%. Entre 2000 e 2010 absorveu cerca de 41% dos lucros das empresas. O maior problema está em que neste país as aposentadorias das pessoas são capitalizadas via fundos financeiros, que percorrem bolsas de valores não somente como a NYSE ou Nasdaq, mas bolsas globais em busca de ganhos financeiros, e neste processo acabam se enredando na aquisição de títulos de governos de países europeus, da China e América do Sul). 

Por aqui nossos bancos seguem altamente endividados em mais de R$ 900 bilhões, igualmente pela aquisição de títulos do Tesouro para rolagem de nossa gigantesca dívida interna, que atingiu em abril deste ano cerca de R$ 3,988 trilhões (em 2002 era de cerca de R$ 640 bi). Uma parcela de R$ 280 bilhões desse endividamento foi apenas para capitalizar o BNDES, que acabou emprestando a somente uma empresa, a JBS, cerca de R$ 8,1 bi. Desse endividamento total, 23% são detidos por bancos, 22% por fundos de investimento, 25% por fundos previdenciários (16,2% em 2012, variação de 54%), 15% por estrangeiros e 6% pelo próprio governo.  

Quanto aos bancos, uma seleção de 11 bancos registrou um endividamento médio de R$ 7,83 de dívidas para cada R$ 1,00 em depósitos. Quanto à alavancagem financeira média, envolvendo 27 grandes marcas, ficou em 11,36 vezes em relação a seus respectivos patrimônios. Atenção especial para os bancos públicos : - Levam vantagem quanto ao volume de depósitos, por questões de risco, reduzindo o caráter do endividamento. Por outro lado, arriscam-se mais patrimonialmente na concessão de crédito. Para efeito de parâmetro, em 1999 o Banco Marka, do banqueiro Cacciola, após forte desvalorização do Real, devido à mudança de política para câmbio flutuante, foi decretado insolvente. Sua alavancagem patrimonial era então de 12 vezes. 


Em 2008, em algumas semanas, a ajuda financeira entre os EUA e diversos países europeus estancou o que viria a ser catastrófico. Foram cerca de US$ 25 trilhões à época. Somente nos EUA, até 2010, tiveram de ser gastos US$ 12.8 trilhões para que fosse reerguida a economia (fonte : pbs.org). Como exemplo do esforço produzido, o PIB mundial em 2011 foi de US$ 79,39 trilhões. 

Bolhas financeiras, apesar de seu caráter cíclico,  em grande medida originam-se de arroubos de governo na expansão de crédito, gastos e investimentos desmesurados, crescimento estatal e aposentadorias funcionais. Euforias econômicas de governo que repercutem sobre a valorização de empresas e de suas ações, títulos públicos lançados para a rolagem de endividamentos e esquemas Ponzi e corrupção embutida que surgem no esteio de outras euforias derivadas, as financeiras.  


Ao ouvir que qualquer crise financeira seja decorrente de causa capitalista, lembre : - Boa parcela delas sempre terá em sua composição presença massiva de estados mamutes na economia, governos que (mesmo os não comunistas) abraçam a causa democrática (leia-se socialista) e seu fantasioso estado de bem estar social, à base de endividamento. Formulações mágicas keynesianistas voltadas para o crescimento econômico induzido, plataforma de quase todos os governos, seja o viés à esquerda ou à direita. Monarquias, especialmente as parlamentaristas, contrariamente a governos republicanos democráticos (socialistas), apresentam uma dinâmica mais contida. Mas ainda assim não ficam imunes.   

A falência de um banco, que se torna jogo de cena, é o detonador “nuclear”. Dá-se pelo esgotamento do processo de rolagem desses títulos, cuja alavancagem financeira e velocidade acabam superando as bases de suas operações calcadas na economia real. Nos EUA ocorreu no setor de hipotécas imobiliárias, com a falência do Lehman Brothers, Freddie Mac e Fannie Mae, em 2008, enquanto na Grécia o foi a partir dos gastos públicos e déficits previdenciários, levando à insolvência na rolagem de seu endividamento público, iniciada em 2010 (ainda em prosseguimento).
Passados mais de 8 anos da última crise financeira, as economias mais atingidas, como EUA, Europa, Japão e países periféricos, ainda esboçam recuperação. Uma nova cisão nos mercados financeiros globais dificilmente viria a ser totalmente absorvida. Ainda que todos os esforços viessem a ser realizados, o evento de 2008 ainda vem sendo pago. Logo, dificilmente uma resposta anti-colapso seria plena. A China repercutirá o Japão de 1991, de forma multiplicada, somando-se Europa com a maioria de seus governos e sistema bancário endividados. A bomba,  . . .  será nuclear !

Portanto, o momento exige serenidade quanto a investimentos, e acompanhamento sistemático diário. Para uma estratégia conservadora, quem possui ações deve programar-se, estipulando uma meta de margem de variação positiva em relação aos preços atuais até uma data futura próxima, para venda, visando abandonar o barco. Reinvista em ouro, o melhor ativo sempre, a longo prazo.




Eduardo Mendonça de Lima
Aspirante a Oficial pela PMDF, Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é avaliador de Empresas, perito judicial e docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia e Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS - 2010-2016.


Thursday 9 March 2017

IR : não correção da tabela, propostas tributárias e desonestidade intelectual

A partir de 1992 até 1994 os valores de isenção eram, em valores atualizados, de R$ 12 mil. Em 1995 sofreram ligeira redução, inexplicável, para R$ 8,8 mil, para, logo em seguida, em 1996, sofrerem novo "reajuste", passando a R$ 10,8 mil, ou cerca de R$ 900,00 mensais de isenção. A questão é que de lá para cá essa faixa de isenção foi reajustada em somente 109,63 %, sendo atualmente de R$ 1.903,98 (ou R$ 22.847,86 ao ano). O IPCA e IGP-M, acumulados no mesmo período, foram de (cálculo meu) 287,1 e 434,0 %, respectivamente, o que importaria num valor de isenção equivalente a R$ 3.514,87 (ou de R$ 4.848,98, se IGP-M). 
O significado ? Supondo proventos na faixa dos R$ 15 mil, com deduções de R$ 3 mil mais a isenção de R$ 1,9 mil, temos è 15 – 3 – 1,9 = 10,10 x 0,275 = R$ 2,78 mil de IR descontados na fonte. Com o valor devidamente corrigido (IPCA e IGP-M, respectivamente) seria :  R$ 2,34 mil de IR descontado, diferença de R$ 440,00/mês (ou R$ 1,97 mil de IR descontado, com diferença de R$ 810,00 – se IGP-M). Em 1 ano, considerando o 13º., o governo tira de você (nesse exemplo) cerca de R$ 5.720,00 (ou R$ 10.530,00 – IGP-M).  
Esse teu dinheiro você necessitará em diversos momentos durante o ano. Desde datas especiais e viagens até necessidades específicas, como aquisições diversas ou pagamentos emergenciais. O que acabará fazendo com que você caia no cheque especial, em algum empréstimo e/ou, pior, cartão de crédito. É justamente nisso que o governo pensa : - Disponibilizar os bancos dele, CEF e BB. 
Vamos até irrelevar a base legal, ou o que é previsto pelo “contrato social”, que é o preço a ser pago por vivermos na acepção de um Estado Nação, na forma de IR : - Tudo bem ! Mas pondere que por conta de uma base legal aceita ele arranca de você 3 vezes, em modalidades não previstas nesse contrato, e que te passam desapercebidamente : - No IR não corrigido, nos empréstimos (de quaisquer naturezas) e nos juros.

Diante desse simples fato de não correção devida da tabela do IR, notório verificar que o custo acaba recaindo sobre os mais pobres, que em vez de estarem isentos, passam a contribuir também. Nesse ínterim, começam a bradar alguns acerca do aumento dos desequilíbrios sociais ou de concentração de renda. E aí começam os estudos, naturalmente pagos com teu dinheiro, em universidades públicas e sindicatos, sobre a acumulação dos bancos e a financeirização da economia. 

Outros vão além, e se reúnem numa entidade chamada Cofecon, e em meio à sandice, párias lançam propostas de reforma tributária sobre heranças (prevendo alíquotas entre 60 a 80%.) e dividendos das empresas (que são o rendimento de um investimento - uma espécie de poupança de longo prazo). Dividendos estes resultantes de esperanças depositadas, que incorreram em riscos os mais diversos, mas que a ajudaram a fazê-la crescer, também investir e gerar empregos.

As mesmas esperanças nos esforços laborais de uma vida tentando deixar alguma melhoria para os filhos. Comunistas não almejam teu bem-estar e o crescimento das empresas e empregos. Se e somente se no Estado (neles) e em suprimir o que é teu.

Para finalizar, tais propostas são, para dizer o mínimo, desonestidade intelectual. Inundam a academia com papers, em que 95% não são lidos. Sinto-me alheiamente envergonhado (honrosas exceções), pois tratam unicamente de uniformizar medidas para "melhorar" e aumentar o Leviatã de Thomas Hobbes, lubricados em teorias as mais diversas. Esse fenômeno típico ocorre em outras ciências também, contaminando e viciando todo o ambiente acadêmico. O leviatã independe de lado, à esquerda ou à direita. Apenas um estribilho deve ser lembrado : Aux armes, citoyens, Formez vos bataillons, Marchons, marchons ! Qu'un sang impur, Abreuve nos sillons !



Eduardo Mendonça de Lima
Corecon-RS 6.502 

Aspirante a Oficial pela PMDF, Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é avaliador de Empresas, perito judicial e docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia e Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS - 2010-2016.