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Saturday 21 March 2020

Pôr fim ao teto de gastos é a saída ?


"Jesus disse-lhes: “Guardai-vos com cuidado do fermento dos fariseus e dos saduceus” ".
São Mateus, 16:6




André Lara Resende1, ao lado de Gustavo Franco e mais alguns poucos, constitui-se num dos mais respeitados economistas do país. Em entrevista à Folha, em 15mar20, dizendo manter contatos com “lideranças políticas”, em que é citado Rodrigo Maia, mostrou ser mais um da turma keynesiana. Um típico “quantitative easier” que advoga por gastos públicos com endividamento sem restrição ou limite. Diz ele : - “. . . Estados que emitem moeda . . . Podem gastar  quanto quiserem . . . até o limite em que consumo e despesas de investimento não pressionassem a capacidade de produção”. 


Defende que “O Banco Central tem o poder de definir a taxa de juros abaixo da taxa de crescimento econômico. Com isso a dívida cresceria menos do que a economia, e os donos do dinheiro não teriam para onde fugir, a bom preço” e “. . . garantindo assim que a relação dívida/PIB não irá explodir, ainda que haja déficits fiscais a curto prazo”. E que com base na crise de 2008, governos emitiram títulos, expandindo suas bases monetárias superior a 15 vezes e sem provocar inflação : - “O experimento do chamado “quantitative easing” salvou o sistema financeiro e implodiu a macroeconomia estabelecida”.  Movido pela desculpa da pandemia de coronavírus para levantar a bandeira de liberação de gastos, em consonância a outros economistas inconseqüentes, defende “ação coordenada das políticas monetária e fiscal”.

Meus apontamentos :
(1) Muitos economistas, após a segunda-feira, 09mar2020, em que o mundo foi surpreendido com a queda de cerca de 30% no preço do petróleo, e em meio ao vírus chinês, partiram para a defesa da eliminação do teto de gastos. De que, por conta do vírus chinês, o governo deveria lançar-se a imprimir dinheiro. Se "gastos do governo" fossem a solução para a "capenga economia brasileira", a solução keynesiana proposta teria transformado o Brasil numa potência, pois foi exatamente o que existiu, em excesso, causando elevada margem de endividamento público (multiplicação por 6x) ao longo de 14 anos de PT. 


O teto de gastos foi justamente a ação empregada para estancar (além da brutal corrupção) o déficit público e seu ulterior endividamento, a cujos juros estavam fazendo o país entrar em trajetória explosiva (isto é, em situação de insolvência financeira e orçamentária).


(2) Em que pese o período em meio ao vírus chinês, circunstância à qual são necessários cuidados e atenção por parte dos governos estaduais e União, não é hora de economizar em se tratando de população, da sociedade como um todo. Deve, portanto, o governo federal remanejar recursos de outras áreas do orçamento visando atender demandas urgentes dos principais ministérios envolvidos, o de Saúde e alguns correlatos, Economia (para atendimento à indústria) e Justiça (para demandas de segurança nacional), por exemplo. Remanejar é o primeiro passo administrativo comparativamente a gastar emitindo dinheiro que não se arrecadou. A meu ver seria compreensível a preocupação. 
Mas Lara Resende, Monica de Bolle, Pochmann e outros partiram não para proteger a população, mas, oportunisticamente em meio à pandemia, defenderem a eliminação do teto de gastos e emissão de dinheiro sem limite para a infra-estrutura (em que hospitais são parte integrante). Não houve da parte de tais economistas promoção específica de investimentos neste setor. Tampouco há lógica a emissão espúrea de dinheiro. Devem ser construídos mais deles, haja visto a rede pública hospitalar não ter acompanhado o crescimento demográfico nas últimas décadas. Remanejamento orçamental é mais racional que exasperar-se ou agir por oportunismo;

(3) A heterodoxia keynesiana pauta-se unicamente em intervenção de governo com gastos e criação de moeda via endividamento. A justificativa é a de alocação racional de recursos com base em “critérios técnicos” para justificar unicamente intromissões e regulações econômicas com propósitos de promover Wellfare State (Estado de bem-estar social), ou, em outras palavras, sem a beleza de falsos eufemismos, um Estado socialista;

(4) Fato histórico mostrou que a adoção de política keynesiana de gastos e endividamento nem sempre é eficaz em realidade. Como exemplo, após a crise de 1929 nos EUA, por 10 anos, entre 1930 e 1940, pouco ou nenhum resultado gerou ao menos no curto e médio prazos, pois na tentativa de recuperação da economia o governo direcionou esforços para a infraestrutura do país, privilegiando o setor de construção civil em detrimento dos demais. A exceção ocorreu quando o país entrou na guerra, em 1941, em que o “esforço de guerra” causou um choque em todo o setor privado do país, aí sim, reativando a economia;

(5) As famílias (bem como o sistema bancário) no Brasil estão altamente endividadas. O que já exclui a hipótese de “endividamento até ao limite do consumo” como apregoado;

(6) O pressuposto para manter emissão de moeda por endividamento é de que haja títulos de dívida com retornos minimamente atraentes, apesar de considerados ativos livres de risco (a depender da classificação de risco de cada país). No caso brasileiro, isso se dá, principalmente, por meio de taxa de juros (Selic). Ao emitir-se títulos da dívida, ainda que com juros reduzidos e abaixo da taxa de crescimento : (a) Quem quererá comprar títulos se se pode investir em negócios produtivos, mais rentáveis, já que a taxa de crescimento da economia é maior ?; (b) Como se financiará, então, o governo sob tal hipótese ?
e (c) Havendo outras economias com juros mais elevados por seus papéis, quem se interessará por papéis da dívida brasileira ? Para tal pressuposto seria necessário que todas as outras economias mundiais também mantivessem reduzidas suas taxas de juros. Como o dinheiro sempre procura quem lhe pague mais, fuga de capitais acabaria existindo, vindo a pressionar a taxa de câmbio, desvalorizando-a, obrigando ao governo à elevação da taxa de juros para estancar tal fuga. Além disso, ciclos econômicos de diferentes prazos (5, 10, 15 anos ou mais) eventualmente ocorrem, causando instabilidade econômica. Em meio a tais cenários ocorre ainda mais volatilidade, agravando o fluxo financeiro, fazendo com que prazos de emissões sejam cada vez menores, exigido taxas de juros cada vez mais elevadas como efeito compensatório. Esse processo conduz internamente a economia a um processo de autofagia. Suprime-se a capacidade de investimento das empresas, que deixam de inovar e perdem competitividade; as exportações se reduzem; empresas tendem a falir; o desemprego aumenta e o governo reduz sua arrecadação, ao mesmo tempo que se torna cada vez maior a participação de pagamento de juros dos títulos, que vem a consumir mais do orçamento, gerando déficits crônicos que necessitam ser refinanciados por emissão de nova dívida, gerando um processo explosivo. Não é possível, portanto, manter-se uma relação dívida/PIB controlada. O argumento é invalidado por sí só;

(7) A simples emissão de títulos a uma taxa de juros atraente deslocaria gastos do setor privado, voltados ao investimento tanto para a ampliação de fábricas quanto de novas plantas industriais (e que carregam elevado grau de incerteza e risco quanto aos seus respectivos retornos financeiros), para a aquisição de tais títulos. A economia como um todo deixaria de investir, crescer e gerar empregos para financiar o governo. Seria uma medida, portanto, concentradora de renda e de desequilíbrio social, pois não promoveria o bem estar da população mas, unicamente, o crescimento governamental;

(8) A questão inflacionária baixa, decorrente da expansão monetária, se deve primordialmente ao fato de que o mundo pós 2008 está endividado e em recessão. Há um razoável grau de desemprego e que repercute com baixa renda populacional. Portanto, por racionalidade lógica, há baixa demanda por consumo, razão da baixa inflação;

(9) Governos expandiram em mais de 15 vezes suas bases monetárias. Mas tal expansão precisa e continua sendo paga. Motivo da baixa capacidade de investimentos dos governos, colocando o mundo em estagnação (ou, nas palavras de Mohamed El-Erian, “os mercados mundiais estão passando por um período difícil que já dura anos2) pois além das amortizações, estão incorrendo no pagamento de juros. Supondo que o governo brasileiro pusesse em prática tais sugestões, mas estando o mundo estagnado, decorrente do elevado endividamento assumido em 2008, bem como pela participação previdenciária de uma população envelhecida na Europa, Ásia e América do norte, ainda que o Brasil aumentasse sua produção, não teria como absorver o excedente produtivo via consumo (pelo endividamento das famílias), tampouco como exportar. Argumentar que o quantitative easing subverteu a teoria macroeconômica conhecida, merece cuidado. Embora tenha sido medida paliativa necessária à época para evitar um colapso econômico, por outro está claro o “arrastar de correntes” macroeconômico deixado como herança aos países que o adotaram, cujos juros e amortizações decorrentes do elevado endividamento vêm comprometendo a capacidade de investimento dos mesmos, bem como o crescimento de suas economias.

Portanto, embora o presente cenário esteja longe de ser o ideal, devemos considerar que choques “cardíacos” para ressuscitar o país tendem mais a causar problemas futuros que imperiosamente virem a favorecê-lo. Diferente do que se tem feito a partir das premissas de Liberalismo Econômico através do ministro Guedes, de crescimento lento porém sustentado, respeitando o aspecto fiscal dos gastos públicos em equilíbrio às receitas. Portanto, nada admissível a aventura, ufanista e psicodélica do keynesianista Lara Rezende, de caráter financeiro pelo Estado sem quaisquer restrições, com investimentos públicos aprovados fora do orçamento e com base no simples aumento da produtividade; uma arapuca !





(1) -  Banqueiro e economista, é graduado em Ciências Econômicas pela PUC-Rio, sendo PhD em Economia pelo MIT - Massachusetts Institute of Technology. É natura do Rio de Janeiro-RJ, nascido em 24 de abril de 1951. Foi diretor do Bacen e um dos formuladores dos planos Cruzado e Real.


Referências :
(1). https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/03/liberalismo-primitivo-de-guedes-nao-leva-a-crescimento-diz-lara resende.shtml

(2). Mohamed El-Erian, 09mar2020, Financial Times – Opinião Economia Global - “Como esse colapso do mercado é diferente de 2008 e o mesmo”.



Eduardo Mendonça de Lima
Ex-Aspirante a Oficial pela PMDF, Bacharel em Economia (UCB-1996), pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília (1997 / 1999, respectivamente). Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS (2005-2007). Ex-integrante da Unidade de Projetos - Geipot (Min. Transportes) e UAP/ABC (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é avaliador de Empresas e perito judicial. Foi docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS, período 2010-2016.





Wednesday 9 October 2019

México : A falácia do combate à sonegação




Perez Obrador durante pleito eleitoral
Leis são um importante elemento de ordem social. Quando bem elaboradas, aprimoram o desenvolvimento de uma nação. Todavia, em caso oposto, prestam-se ao desserviço de muitos em favor de alguns poucos. A área fiscal é pródiga em leis dessa natureza. Do tipo “enxugue o gelo permanentemente; se você suspender a secagem, será considerado criminoso”. Ou seja, não se ataca a origem do problema. Mas dá-se um jeito de contorná-lo.

Se vai criar outros, é outra estória (o que é bom para quem dessa forma pensa, pois são geradas novas demandas no campo jurídico para advogados, magistrados e promotores, sem que se importem com o restante da sociedade).

Assim como, também por meio delas, é possível a decretação de expropriações a serviço de uma causa, sem que necessariamente o seja por meio forçoso, de forma a parecer “anti-democrático”. Desde a assunção do novo governo no México, por Lopez Obrador em 2018, uma simples denúncia, sem provas, é suficiente e está levando empresários aos cárceres, sem distingüi-los de traficantes. Seus bens e propriedades vêm sendo confiscados e leiloados antes do devido processo legal, e sem garantias de restituição caso o processo resulte em inocência.

Como resultado, o IED (Investimento Externo Direto) caiu abruptamente. Com isso, empresas mexicanas estão desativando suas operações por inviabilidade ou transferindo suas sedes para os EUA. A arrecadação sobre I.R. e IVA já caíram 4% e 12%, respectivamente, em relação a 2018 e a informalidade é de quase 60% na economia do país. Toda sonegação de tributos começa com a elisão fiscal (que é um planejamento tributário para que se pague menos). Quando se atinge certo ponto, a sobrevivência da empresa conduz inevitavelmente ao passo seguinte, a sonegação (ninguém aqui está defendendo ou fazendo apologia a crime algum).

Porém, como pode um governo socialista, que busca defender os interesses dos mais pobres e da classe trabalhadora (cujos objetivos são melhor renda e redução da desigualdade), agir contra a sonegação e obter resultados contrários ? Se o fator garantidor desses objetivos é o emprego, como pode imprimir ofensiva à sonegação e acabar solapando empresas ? Ao confiscar bens e recursos financeiros bancários, o atual governo tem inviabilizado a operacionalidade das empresas, interrompendo suas atividades e/ou até mesmo levando ao fechamento. O desemprego acaba sendo inevitável. Busca o governo aumentar sua arrecadação, por direito, para poder aumentar seu orçamento e com isso investir no campo social. Mas produz, contraditoriamente, danos à classe trabalhadora. Algo absolutamente incoerente e estúpido.

Há um histórico de sonegação no México. Porém o cerne da questão, como o gelo ao qual exemplifiquei, reside na carga tributária, taxa a partir da qual naturalmente se inicia um comportamento sonegante, um fenômeno econômico. Tanto lá, México, como Brasil, o problema é o mesmo. Informações dão conta que a reforma não necessariamente atacará a carga fiscal, ao redor de 36%, mas buscará a simplificação arrecadatória e de pagamentos, assim como a simples criação de tributo similar ao molde da CPMF em nada solucionará o problema nacional. Mais do que simplificação, será necessária uma carga ao redor de 20%, como tínhamos nos idos de 1970, a fim de que se viabilize a re-industrialização do Brasil.

O interessante dessa parvoíce mexicana é ser perfeitamente aplicável ao Brasil.


Referências :

https://www.ft.com/content/45c05fa2-e5ef-11e9-9743-db5a370481bc
https://mises.org/wire/mexico-neoliberal


Eduardo Mendonça de Lima
Ex-Aspirante a Oficial pela PMDF, Bacharel em Economia (UCB-1996), pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília (1997 / 1999, respectivamente). Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS (2005-2007). Ex-integrante da Unidade de Projetos - Geipot (Min. Transportes) e UAP/ABC (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é avaliador de Empresas e perito judicial. Foi docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS - 2010-2016.



Monday 20 May 2019

Vamos falar sobre a China - Parte l - Geografia & Geopolítica

Introdução
A palavra "China" é derivada do persa Ci , que por sua vez é derivado do sânscrito Cina. Por sua vez é derivado de Qin, que significa “o mais ocidental dos reinos chineses” em virtude de sua aproximação com os reinos do leste da Índia, Tibet e Birmânia, uma vez que o termo Cina foi usado em duas escrituras hindus – o Mahābhārata, em  V a.C., e no Código de Manu, do século II a.C.. Pode ter se originado durante a dinastia Zhou (cerca de 1.046 a 256 A.C.) ou dinastia Qin (cerca de 221–206 a.C.), em que esta obteve repercussão bem sucedida.


Aspectos Geográficos
Shanghai
A República Popular da China-RPC é o terceiro maior país do mundo, detendo uma área de 9.596.961 km², dividido em 22 províncias. O governo ainda considera Taiwan como uma 23a. província, embora esta seja independente da China continental desde 1949.  A proclamação chinesa, enquanto República, ocorreu em 1o. de janeiro de 1912 e como "República" Popular (ou comunista) o foi em 1o. de outubro de 1949, adotando o atual nome.

Possui a maior população mundial, com 1,415,045,928 habitantes, com densidade demográfica média de 147,45 habitantes por km2.  A população ocupa 1/3 da área do país ao longo de 1.600 km de faixa litorânea. A maior parte dos restantes 2/3 do território são formados por desertos sendo, portanto, pouco ou nada habitados.

Ao norte faz fronteira com a Sibéria e estepes da Mongólia, áreas inóspitas, pouco povoadas e de difícil travessia; ao sudoeste apresenta a Cordilheira do Himalaia; ao sul faz fronteira com Myanmar, Laos e Vietnam, por meio de montanhas e florestas; ao leste está o Oceano Pacífico e a noroeste sua fronteira encontra o Cazaquistão.

Comporta 2,8% do total de água doce do mundo, onde podem ser citados os maiores rios de seu território :

● Yang Tsé, com .5.520 km, navegável;

● Yalu, com 795 km, navegável;

● Amarelo (Huang He), com 4.672 km, navegável;

● Amur, com 2,824 km, navegável, fronteira com a Rússia, a nordeste;

● Xijiang (Hsi Kiang), com 1,957 km;  

● Lancang (Mekong), total de 4.350 km (cerca de 50% em território chinês).

 

As cidades mais importantes, com população (em milhões) são Chogqing  (30,166), Shanghai (24,183), Beijing (21,707),  Guangzhou (13,081), Chengdu, Shenzhen (12,528), Tianjin (11,249), Dongguan (10,615), Foshan (9,279), Chengdu (9,012), Shenyang (8,106), Wuhan (8,035), Ningbo (7,606), Nanjiing (7,260), Hangzhou (7,035), Dalian (6,690), Xian (6,220), Suzhou (5,983), Qingdao (5,930) e Harbin (5,299).

O país possui um grande deserto, Gobi, a noroeste do país, cuja área, de cerca de 1,3 milhão de km², é composta de areia e solo rochoso, englobando também parte da Mongólia. A temperatura nessa região varia, em média, de mínimas de -40°C (janeiro) a máximas de 45°C (julho). 

O país possui amplos recursos minerais por quase todo o território (Mapa 01). São elementos normalmente encontráveis em áreas desérticas. Mas no caso chinês o predomínio de Elementos Terras Raras – Rare Earth Elements-REE ocorre com maior concentração e minas de exploração na parte leste do páis, do sudeste ao nordeste do país.  São detidas, se e somente se REE, cerca de 94% das reservas no mundo, excluindo-se depósitos de outros minerais também importantes, os quais perfazem entre 44 e 55% das reservas mundiais. Em 2017 o país foi responsável por 81% da extração de REE. São normalmente empregados em tecnologias e nanotecnologias de baixo carbono, nos ramos de eletrônicos e Informática, lasers, fibras ópticas, indústria bélica, aeroespacial, metalurgia, refino de petróleo, engenharia de motores elétricos e baterias, vidros, cerâmicas, energia nuclear, aplicações na área de saúde e química (fertilizantes e tratamentos de água) e biotecnologias.

Mapa 01
Recursos Minerais


Aspectos Geopolíticos
A China, historicamente, não é um país agressivo. Pelo contrário, revela-se como um país de natureza reservada, como se uma ilha o fosse. Sua geografia naturalmente contribui para isso, uma vez que é rodeada por terrenos intransitáveis como montanhas, desertos, florestas e terras incultiváveis, fazendo que se torne isolada do resto do mundo. A geografia de isolamento age sobre a população, causando um comportamento de reserva e recolhimento naturais. Essa característica fez com que em sua história o país só fosse conquistado territorialmente, em sua totalidade, uma única vez, pelos mongóis, no séc. Xll (de 1219 a 1279).

Esse comportamento reservado da população, fruto de sua geografia, refletiu em termos agregados, no envolvimento de caráter intermitente do país com o resto do mundo ao longo dos séculos. Um desses contatos foi mediante a Rota da Seda (1), uma vez que, com a entrada dos europeus no séc. XVl, encontraram um país unificado, num período isolacionista, porém muito depauperado. Porém viram chances de comércio, que irrompeu de forma intensa, gerando aumento dramático de riqueza nas regiões litorâneas do país, quer pelos investimentos estrangeiros europeus quanto pelo comércio internacional.  Isso fez com que surgisse uma desigualdade imensa entre o litoral e o interior do país.

E isso originou um enfraquecimento do controle do governo central sobre as regiões litorâneas, redundando em instabilidades e caos, pois o litoral passou a preferir o contato com os europeus, inclusive aceitando subordinação em muitos casos. Esse período durou do início do séc. XIX até a tomada do poder pelos comunistas, em 1949. Mao Tsé Tung pretendeu inicialmente fomentar sua revolução pelas regiões litorâneas, tendo, obviamente, fracassado. O que deu início à Grande Marcha pelo Interior, juntando um exército de camponeses pobres, travando uma guerra civil com o litoral, vencendo-a. Com a insubmissão das regiões litorâneas, foi implantada uma “Revolução Cultural” no país, que levou ao assassinato de aproximadamente 80 milhões de chineses pelo regime comunista, seja pela fome (em bases similares ao Holodomor ucraniano, que teve cerca de 7 milhões de mortos), seja por fuzilamentos.

Até a morte de Mao, o país permaneceu unificado e em segurança, porém isolado e pobre. O sonho chinês, um país próspero com o comércio internacional, passou a ser novamente buscado pelos integrantes do partido, e Deng Xiaoping, sucessor de Mao, assim o fez, assegurando-se de que outros países não sobrepujassem o país em desvantagem econômica, tampouco divisões internas. O país investiu em produtos baratos e a riqueza novamente retornou às cidades litorâneas, destacando-se Shangai, embora continuasse o interior empobrecido. As tensões continuaram, mas com certo equilíbrio e sob controle do governo central, tendo assim permanecido até aproximadamente 1989.

As revoltas ocorridas na Praça da Paz Celestial, ocorrido em 04jun1989, onde foi reputado à época, por agências internacionais de notícias, ter havido um massacre com a morte de 10 mil chineses promoveu fortes mudanças na conduta do Partido Comunista Chinês, e Pequim passou a mudar sua política interna visando uma transferência gradual de recursos das regiões litorâneas para o interior, como forma de contra-balançar as desigualdades internas, buscando um equilíbrio em todo o território do país.
O rebelde desconhecido (o soldado
 condutor do primeiro tanque, que parou, foi
fuzilado pouco depois por insubordinação)
 


Porém, o empresário de Shangai fomenta ligações com Londres, Los Angeles, Nova York, e mais recentemente, Dubai e Abu Dhabi, com os quais ganha dinheiro, muito mais do que relacionamentos com o governo central, em Pequim.  Nesse ínterim, quanto mais Pequim tentar controlá-lo, mais o empresário chinês recorrerá às potências estrangeiras com quem realiza comércio para que venham em sua defesa.  Para mais além dessas questões, a China sustenta-se em virtude de seu comércio internacional, não pela ideologia.  De outro lado, o interior pressiona o governo central para que force o litoral a repassar-lhes mais dinheiro. Pequim acaba parecendo um gigante tentando segurar por cordas as forças de tração de dois cavalos em sentidos opostos. Ou esmorece e perde o controle, ou reforça sua intervenção e isola o país. O regime comunista baseava-se em dois pilares, sendo que um terceiro já é considerado inexistente  : - 1 - Sua burocracia; 2 – Suas forças armadas, que mantém o Estado agigantado e os desejos do Partido Comunista chinês; 3 – Os princípios ideológicos do PC, que já desapareceram.

Em outras palavras, mutatis mutandis, a China sustenta-se em função de seu dinheiro obtido com o comércio internacional; não mais em virtude de ideologia. Dessa forma, são três os possíveis caminhos para seu futuro : 1 – Crescimento econômico a taxas elevadas por um longo prazo; 2 - Recentralização do comando e controle; e 3 – Fragmentação regional em virtude de enfraquecimento do poder central.

No primeiro cenário, nunca em nenhum momento da história da humanidade nenhum país jamais conseguiu manter taxas econômicas de crescimento por tempo demasiadamente prolongado, mesmo porque isso contraria pressupostos de racionalidade e dinâmica econômicas.  Embora a China tenha conseguido elevadas taxas de crescimento de meados da década de 1990 até aproximadamente 2015, hoje verificamos que seu fulgor já não é o mesmo, recrudescendo de níveis de 11% para hoje em torno de 5 a 6%.

No segundo cenário, no caso de desaceleração econômica ou mesmo uma recessão, os interesses dos empresários acabarão conflitando tanto entre sí quanto em relação ao governo. E este tenderá a aumentar sua interferência e controle. Porém, dentro do próprio governo central existem conflitos entre aqueles que desejam enrijecer a presença estatal e aqueles para os quais uma centralização não se adequa mais perante o cenário mundial, o que faz com que este cenário de recrudescimento, controle e maior presença do governo central seja difícil de se concretizar. O retorno do caráter isolacionista, permeado de ideologia comunista não mais se justifica, tampouco os chineses acreditam mais nesse modelo. Se vier a ocorrer, somente o será em bases nacionalistas, sem ideologia.

Resta-nos, portanto, um terceiro cenário, e o mais provável, o de fragmentação regional. Considerando que toda economia passa em algum momento por situações de incerteza e/ou esgotamento do modelo adotado (matriz econômica), ou até mesmo recessão, isso acabará gerando tensões internas. Esse recrudescimento econômico seguido de fragmentação interna beneficiaria as classes mais ricas e investidores estrangeiros. Esse cenário seria idêntico àquele encontrado antes de Mao, e compatível com a realidade e história chinesa, com competição (e até possíveis conflitos) entre as diferentes regiões (litoral x interior; norte x sul), com o governo central esforçando-se na manutenção do controle.

Isso posto, a ideologia serve unicamente ao atendimento da agenda da Internacional Socialista (2), fustigando intervenções em países de terceiro mundo, via guerrilhas armadas (principalmente países africanos e do Oriente Médio), via marxismo cultural através de universidades e meios de comunicação de massa, com o propósito único de fomentar regimes socialistas que venham, posteriormente, a assegurar acesso a recursos naturais, como terras agricultáveis (3) para a produção e remessa de alimentos aquele país, minérios (ferro, cobre, alumínio, cobalto, como os principais), madeiras e petróleo.

(Continua)


(1) - De início impreciso. Reputa-se que tenha tido seu começo a partir da importação de animais da Ásia e Oriente Médio pelo Egito, como camelos e cavalos, em cerca de 7.500 a.C.. Também são identificadas, desde e entre 4.000 a.C., importações egípcias de cananeus e sírios, como artefatos variados, cerâmicas e conceitos de construção. Houve também o comércio de lápis-lazúli, do Badaquistão (noroeste do Afeganistão) para a Mesopotâmia, Egito, Paquistão e Índia. Também desde 3.500 a.C. foram utilizadas rotas que acompanhavam a  Estrada Real Persa (construída em 500 a.C.). Foi intensificada por diferentes rotas marítimas ao longo de toda a costa asiática e do Oriente Médio, pelo Oceano Índico, a partir de 1950 a.C., com os Egípcios. Com os Romanos, até aproximadamente 1400. O apogeu da rota da seda correspondeu ao império Bizantino (Ou Império Romano do Oriente, de 395 a 1453). Com o advento da pólvora, modernização rápida da Europa, ascensão política de Estados organizados e florescimento do Mercantilismo, houve declínio comercial na Rota da Seda, que enfraqueceu o Império Mongol, promovendo sua sua desintegração. O fim da Rota da Seda ocorreu aproximadamente no ano de 1.400.

(2) - Organização política organizada na forma de fóruns de discussões e idéias para a disseminação da ideologia comunista, e ocorre periodicamente em diferentes países, reunindo cerca de 145 partidos políticos em mais de 100 países visando consolidar e desenvolver políticas socialistas pelo mundo. É considerada uma ONG (Organização não governamental) e conta com status consultivo Categoria l pelas Nações Unidas - ONU
;

(3) - Detendo cerca de 10% das terras aráveis no mundo, mas 1/5 da população mundial, e a partir do aumento da renda per capita chinesa, que promoveu uma mudança na dieta dos chineses, como maior consumo de carne e aumento na variedade de grãos consumidos, o país vem adquirindo terras agricultáveis em ritmo intenso em países da América Latina, sudeste asiático e África. São países como o Brasil, Argentina, Chile, Moçambique, Nigéria, Zimbábue, Camboja e Laos, Austrália, entre outros. Desde 2010 os investimentos somam cerca de US$ 94 bilhões e cerca de 9 milhões de ha em diversos projetos tanto estatais quanto privados, 
em fazendas de cereais, soja, cultivo de frutas, vinhedos, plantações de algodão ou criação de gado, bem como fábricas de processamento de alimentos (em alguns casos, como subterfúgio jurídico para acesso às terras propriamente ditas, em países que apresentem restrições ao acesso de investimentos estrangeiros)


Referências :
http://www.cadtm.org/An-Overview-of-Chinese-Debt
https://www.spglobal.com/en/research-insights/articles/credit-trends-demystifying-china-s-domestic-debt-market
http://www.eai.nus.edu.sg/publications/files/EWP150.pdf
https://data.worldbank.org/country/china
https://www.bloomberg.com/quicktake/chinas-debt-bomb
https://www.thebalance.com/what-are-derivatives-3305833;
https://www.elblogsalmon.com/conceptos-de-economia/que-son-los-derivados-financieros
https://www.globalfirepower.com/countries-listing.asp
https://www.cartacapital.com.br/internacional/vem-ai-a-internacional-progressista
https://www.focus-economics.com/countries/china
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_external_debt
https://www.khanacademy.org/economics-finance-domain/core-finance/derivative-securities
https://www.un.org/development/desa/dpad/wp-ontent/uploads/sites/45/publication/WESP2018_Full_Web-1.pdf
https://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/hong-kong-joia-do-imperio-britanico-devolvida-china-em-1-de-julho-de-1997-14107509
https://pt.wikipedia.org/wiki/Taiwan#Regime_unipartid%C3%A1rio
https://internacional.estadao.com.br/noticias/nytiw,enquanto-china-impede-emprestimos-crescimento-mostra-sinais-de-hesitacao,70002366219
https://pt.wikipedia.org/wiki/China
http://www.worldometers.info/world-population/population-by-country/
https://ig.ft.com/sites/numbers/economies/china/
https://data.worldbank.org/country/china
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_cities_proper_by_population
https://en.wikipedia.org/wiki/Rare-earth_element#Geochemistry_applications
https://www.theverge.com/2018/4/17/17246444/rare-earth-metals-discovery-japan-china-monopoly
https://internacional.estadao.com.br/noticias/nytiw,divida-de-paises-da-africa-com-a-china-nao-para-de-  aumentar,70002624222
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2139
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2621
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2736
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2969
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rota_da_Seda
http://www.internacionalsocialista.org/about.cfm
https://istoe.com.br/china-compra-terras-no-exterior-em-ritmo-voraz/
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1868&ac=91230
Friedman, George 
     Os próximos 100 anos : uma previsão para o século XXl / George Friedman; tradução : Gabriel Zide Neto. - Rio de Janeiro : Best Business, 2009. ISBN 978-85-7684-356-6




Eduardo Mendonça de Lima
Ex-Aspirante a Oficial pela PMDF, Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é avaliador de Empresas e perito judicial. Foi docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS - 2010-2016.

Thursday 16 August 2018

Turquia e sua crise da dívida


O mundo está novamente em turbulência : Dessa vez o problema provém da Turquia. Em meados de 2017 economistas norte-americanos alertaram para nova instabilidade financeira nos mercados (leia aqui). Haviam previsto para em torno de abril de 2018. Entre dezembro e fevereiro de 2018  foram observadas reações nos mercados da China e Estados Unidos. 

Com respeito à Turquia, o problema não se restringe ao atual momento e os atritos estabelecidos com a guerra tarifária com os EUA. Mas muito antes. Seu atual presidente, Recep Tayyip Erdoğan, havia assumido como primeiro ministro em 2003, assim permanecendo até 2014, quando então assumiu a presidência após pleito eleitoral. Embora tenha promovido reformas no país como pré-requisito à aceitação na União Européia, o que susteve e ainda mantém razoavelmente bem a economia são os Investimentos Externos Diretos (de US$ 42 bi - 2017). 

Comparativamente ao Brasil, boa parte de suas estatísticas revelam um quadro satisfatório  (porém, não do ponto de vista de países com boa administração pública – para nós, o estado crítico já foi tornado comum há décadas).  Sua força de trabalho é de 31 milhões face 81 milhões de habitantes, e sua pirâmide populacional ainda apresenta a base aproximadamente alargada, não promovendo, ainda, problemas previdenciários. O PIB em 2017 atingiu US$ 851 bilhões, e vem se recuperando desde 2013, quando atingiu US$ 950 bilhões. (1)

A poupança interna é de 25% do PIB, a indústria representa 32% PIB, o endividamento total está em 29,6% PIB (baixo), a carga tributária é de 21% PIB, e a força do trabalho vem 27% da agricultura e 18,5% da agricultura. 

É um país que depende de exportações de commodities, cujo movimento de longo prazo é de queda, embora venha ocorrendo lenta recuperação desde janeiro de 2016. Seu saldo comercial é  deficitário em cerca de US$ 40 bi (2017), o que, junto com a significativa parcela de mão de obra empregada na agricultura ajuda a promover elevada desigualdade social, onde os 10% mais pobres detém 2,1% da riqueza, enquanto os 10% mais ricos, 30,3%. 

A taxa anual de juros subiu, e está em agosto de 2018 em 17,75% ante 15,2% (de dez2017 - nada que se compare aos nossos 457% em média de cartão de crédito – ou 15,38% a.m.). 

O contra-golpe de Erdogan em resposta à tentativa de golpe pelos militares, que visavam defender princípios constitucionais e deter a corrupção de seu governo, em 15 de julho de 2016, fez com que fosse acelerado o processo socialista no país, aumentando a insegurança jurídica e gastos de governo, que estão em elevação contínua em relação à receita (US$ 39 bilhões de déficit), que precisam ser financiados por emissão de títulos, cujo valor de mercado vem caindo desde 2013, de US$ 195 bi para US$ 189 bi em 2015. O que faz com que o país tenha a 29ª. maior dívida entre os países, cerca de US$ 430 bi. 

Tudo refletindo numa inflação que fechou 2017 acumulada em 11,92%. O acumulado em 2018 alcança 9,16% até junho. Porém, a partir de julho é observado comportamento descontrolado, e sua projeção anual agora já atinge 101% (1). Decorre em grande parte, além dos riscos associados com a incerteza, gerando expectativas, em razão da forte desvalorização da moeda, que presentemente vale em torno de 6,05 liras, contra 2,19 em 2013 (com base em US$), o que recrudesce o consumo e piora o desemprego, que atingiu 17,8% em maio último.  

Vale ressaltar que o desemprego passou de uma média oscilante histórica na década de 1990, que se situava em 15%, para o patamar de 20% a partir do ano 2000. Em termos gerais apresenta uma oscilação histórica que carrega em sí um componente sazonal associado ao setor agrícola, do qual a economia é fortemente dependente. Mas a oscilação dos últimos 18 anos apresenta variações mais acentuadas, estando mais fortemente associadas às mudanças políticas do país. 



Especificamente no tocante à crise, já existe a certeza de que 25% do total de títulos especulativos em Credit Default Swaps - CDS (2) - não serão honrados pelo mercado. 

A maior parte da dívida se concentra vários bancos europeus, e somente o espanhol BBVA detém 50% do capital do segundo maior banco privado turco, o Garantí, que por sua vez é um dos maiores compradores dos títulos daquele governo. Os espanhóis compraram cerca de US$ 82,3 bilhões de títulos turcos. Grande parte desses investimentos são visando futuras aposentadorias.

Em 10 de agosto do corrente, foi verificada uma corrida aos bancos para saques em moedas estrangeiras nos três principais bancos turcos, que solicitaram prazo aos clientes por falta de recursos imediatos, que tiveram de ser solicitados às respectivas matrizes.

Já as empresas do país estão elevadamente endividadas em moedas estrangeiras, em cerca de 40% de suas respectivas produções anuais. Em 2017 os maiores grupos empresariais do país tiveram de reestruturar suas respectivas dívidas, em cerca de bilhões de dólares, sendo que este movimento continua em ascensão. Das empresas, o endividamento passa para os bancos. Importante frisar que de janeiro ao presente agosto, as ações dos bancos turcos já perderam 36% de seu valor. Tal desvalorização acentua ainda o cenário de risco, uma vez que para continuarem rolando suas dívidas necessitam de novos empréstimo, que só vêm sendo obtidos no mercado europeu (principalmente em Londres) mediante consórcio entre dois ou mais bancos.

Em suma, a crise vem de longo tempo, desde que o país iniciou sua jornada socializante, em 2003. Com o contra-golpe em 2016 e o acirramento das questões políticas, a economia do país entrou em processo de desequilíbrio, onde o aumento dos gastos do governo passou a gerar desconfianças e riscos de longo prazo percebidos pelos agentes, que responderam, principalmente nos últimos meses, com  fuga massiva de capitais, desencadeando uma crise monetária que agora se transformou em uma crise de dívida e liquidez. 

Culpar Trump por aumentar tarifas alfandegárias a seus produtos, bem como aos "especuladores", ou mesmo o capitalismo, pelas desgraças originadas pelo viés comunista, é o comportamento natural de todos os ditadores.




(1) - Projeção de Steve Hanke, Economista e professor - Instituto John´s Hopkins / Senior Fellow & Diretor da Troubled Currencies Project / Cato Institute e Forbes / FX Commodities Trader / Reagan White House Alum


(2) - Credit Default Swap, ou simplesmente CDS, trata-se de um ativo financeiro de proteção em que um investidor é remunerado quando ocorre o default (não pagamento de uma dívida ou empréstimo) de uma instituição enumerada no contrato.  Quando ocorre, o emissor do CDS responsabiliza-se pelo pagamento ao portador desse contrato. O preço de um CDS está relacionado com a probabilidade dessa instituição não pagar as suas dívidas. Quanto maior o risco de crédito da insituição especificada, maior o valor do CDS; e quanto menor o risco de crédito, menor o valor do CDS. Os CDS se originaram em 1990 como forma de seguro por parte de companhias petrolíferas, devido ao acidente ambiental provocado pelo derramamento de petróleo provocado no Alaska pelo petroleiro EXXON Valdez, em 1989. Está inserido no arcabouço dos derivativos, e em conjunto com outros ativos financeiros "tóxicos" e exóticos, é conhecido como "Mercado nas Sombras".  O montante mínimo para cada operação é de US$ 10 milhões, e o mercado global de CDS foi estimado em março de 2017 em torno de US$ 800 trilhões. O total de derivativos, estimado pelo BIS - Bank of International Settlements,  corresponde a US$ 700 trilhões, sendo o total desse mercado a soma dos dois valores, cerca de  US$ 1,5 quadrilhão. 


Referências :
https://countryeconomy.com/gdp/turkey
https://magnet.xataka.com/preguntas-no-tan-frecuentes/turquia-problemas-crisis-economica-peor-que-grecia-2008-frente-presidente-asfixiante?utm_source=elblogsalmon&utm_medium=network&utm_campaign=repost
https://www.theguardian.com/business/live/2018/aug/13/turkey-financial-crisis-contagion-fears-hit-markets-as-central-bank-takes-action-business-live
https://cincodias.elpais.com/cincodias/2018/08/10/mercados/1533922660_265960.html
https://www.elblogsalmon.com/conceptos-de-economia/que-son-los-credit-default-swaps
https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-08-10/turkish-lira-collapses-as-investors-panic-before-erdogan-address
https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/tu.html
https://www.cnbc.com/2018/08/14/turkey-annual-inflation-rate-is-running-at-an-estimated-101-percent.html
https://www.ibtimes.co.uk/alchemy-derivatives-market-could-trigger-next-global-financial-crisis-1613137



Eduardo Mendonça de Lima
Ex-Aspirante a Oficial pela PMDF, Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é avaliador de Empresas, perito judicial e docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS - 2010-2016.