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Sunday 28 December 2014

A Reaganomia brasileira : - Rumo à derrocada

Artigo publicado no Jornal do Comércio - RS, em novembro/2011
 
 
 
Em 1950 o economista canadense Robert Mundell teorizou que, mediante taxas flexíveis de câmbio, a política de combate à inflação menos custosa seria aquela que conciliasse restrição monetária com aumento do déficit público (Modelo Mundell-Fleming).  Nessa proposta, quanto maior o déficit público maior a tendência de elevação da taxa interna de juros, aumentando o fluxo de capitais internacionais, valorizando o câmbio. Em contrapartida, as taxas inflacionárias se reduziriam. Argumento obviamente respeitável no curto prazo.
 
No longo prazo a sobrevalorização cambial inviabiliza exportações. Em 1981 o presidente dos EUA, Ronald Reagan, implementou tais medidas e conduziu os EUA e o mundo a uma recessão mundial (1983) pelo aumento das taxas de juros, derivando o segundo crash da Bolsa de Nova York, em 1987, e ao contágio sistêmico (por moral hazard) de muitos países entre 1994 a 2001 (México, Rússia, Sudeste Asiático, Brasil, Argentina).  
 
 
O caso brasileiro
No Brasil, a implementação dessa estupidez teve início em 2003. É avassalador o volume de gastos. Segue uma trajetória explosiva. Pelos dados do Ipeadata, entre 2000 e setembro de 2011 vem crescendo à média de 7% ao ano acima da arrecadação federal.
 
Em relação ao PIB, os gastos passaram de 21% em 2000 para 29% em 2011. Vem sendo mantida à custa de duas variáveis : - Elevados juros reais (os juros mundiais, descontada a inflação, oscilam entre negativos e 1%) e fluxo de Investimentos Externos DiretosIED. Os juros são mantidos elevados para atrair capitais externos (IED, a maior parte circulando no mercado financeiro), que auxiliam no fechamento das contas a partir da aquisição de títulos do governo (M4 – base monetária mais emissão de títulos).
 
O M4, descontado o M3, configurando apenas a emissão de títulos, já apresenta um volume em torno de R$ 5,481 trilhões (2010), ou 149% do PIB. Em 2011 já atingiu (até setembro) 171% do PIB. Em 2000 correspondia a 83%.
 
Por cálculos próprios, cada variação nos gastos do governo em R$ 1 bilhão, retroalimenta-se a dívida mobiliária em R$ 9,4 bilhões. Cada 1% de elevação da Selic tem-se R$ 232 bilhões de aumento na dívida mobiliária (R$ 19,3 bi/mês).  
 
A amortização dessa dívida variou 13% entre 2009 e 2010. E cada R$ 1 bilhão de aumento nessa variável retroalimenta-se essa mesma dívida em R$ 108 bilhões. Por conseguinte, já foram amortizados R$ 2,611 trilhões (PIB de 2007), de 2000 a 2011 (até setembro).
 
 
 
Desindustrialização     
O mais estarrecedor é que toda a asfixiante carga tributária (cerca de 36% do PIB) supre apenas 30% das necessidades anuais do governo. Os restantes 70% têm de ser cobertos por emissões de títulos; e isso há mais de 11 anos. A excelência administrativa para gerir esse colosso fica a cargo do Tesouro Nacional, Bacen e Receita Federal, únicos órgãos que “funcionam”.
 
Uma soberba de gastos que não está conduzindo o país a parte alguma em termos práticos. Não há defesa nacional aparelhada, saúde com dignidade, educação preparadora, segurança pública, justiça ou infra-estrutura. Somente um marasmo de 37 ministérios e uma miríade de ONG’s desonestas que chafurdam em sua própria burocracia. Além do básico que não temos em qualidade, o setor industrial padece ao suster essa celeuma do governo, e tentar manter-se.  
 
A industrialização brasileira está desaparecendo, sofrendo a maior onda de falências, fusões e aquisições de sua história. Hoje 30% de nossas exportações dependem da China. E 20% das exportações chinesas dependem da Europa; continente economicamente moribundo que está racionalizando tudo, já produzindo desaceleração no país chinês.
Pergunto : - Assim como a massa do universo que é finita, o que limitará a continuidade de sua expansão, também há uma finitude para a expansão irresponsável dos gastos públicos. Com uma recessão à nossa porta, e com uma bomba relógio armada, a explodir entre esse e o próximo governo, poderá a economia brasileira se recuperar inexistindo um parque industrial robusto e diversificado, que exporte produtos de qualidade com elevado valor agregado e tecnológico ?   

Eduardo Mendonça de Lima
Economista, Corecon-RS 6.502,
Especializ. Adm. Financeira e  
Projetos, pela- FGV. É avaliador
de Empresas

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