Em 1950 o economista canadense Robert Mundell teorizou que, mediante
taxas flexíveis de câmbio, a política de combate à inflação menos custosa seria
aquela que conciliasse restrição monetária com aumento do déficit público
(Modelo Mundell-Fleming). Nessa proposta, quanto maior o déficit
público maior a tendência de elevação da taxa interna de juros, aumentando o
fluxo de capitais internacionais, valorizando o câmbio. Em contrapartida, as
taxas inflacionárias se reduziriam. Argumento obviamente respeitável no curto prazo.
No longo prazo a sobrevalorização cambial inviabiliza exportações. Em 1981 o
presidente dos EUA, Ronald Reagan, implementou
tais medidas e conduziu os EUA e o mundo a uma recessão mundial (1983) pelo
aumento das taxas de juros, derivando o segundo crash da Bolsa de Nova York, em 1987, e ao contágio sistêmico (por moral hazard) de muitos países entre 1994
a 2001 (México, Rússia, Sudeste Asiático, Brasil, Argentina).
O
caso brasileiro
No
Brasil, a implementação dessa estupidez teve início em 2003. É avassalador o
volume de gastos. Segue uma trajetória explosiva. Pelos dados do Ipeadata,
entre 2000 e setembro de 2011 vem crescendo à média de 7% ao ano acima da arrecadação federal.
Em
relação ao PIB, os gastos passaram de 21% em 2000 para 29% em 2011. Vem sendo
mantida à custa de duas variáveis : - Elevados juros reais (os juros mundiais,
descontada a inflação, oscilam entre negativos e 1%) e fluxo de Investimentos Externos Diretos – IED. Os juros são mantidos elevados para
atrair capitais externos (IED, a maior parte circulando no mercado financeiro),
que auxiliam no fechamento das contas a partir da aquisição de títulos do
governo (M4 – base monetária mais emissão de títulos).
O M4, descontado o M3, configurando
apenas a emissão de títulos, já apresenta um volume em torno de R$ 5,481
trilhões (2010), ou 149% do PIB. Em 2011 já atingiu (até setembro) 171% do PIB.
Em 2000 correspondia a 83%.
Por cálculos próprios, cada variação nos gastos do
governo em R$ 1 bilhão, retroalimenta-se a dívida mobiliária em R$ 9,4 bilhões.
Cada 1% de elevação da Selic tem-se R$ 232 bilhões de aumento na dívida
mobiliária (R$ 19,3 bi/mês).
A amortização dessa dívida variou 13% entre 2009 e
2010. E cada R$ 1 bilhão de aumento nessa variável retroalimenta-se essa mesma
dívida em R$ 108 bilhões. Por conseguinte, já foram amortizados R$ 2,611 trilhões
(PIB de 2007), de 2000 a 2011 (até setembro).
Desindustrialização
O
mais estarrecedor é que toda a asfixiante carga tributária (cerca de 36% do PIB)
supre apenas 30% das necessidades anuais do governo. Os restantes 70% têm de
ser cobertos por emissões de títulos; e isso há mais de 11 anos. A excelência
administrativa para gerir esse colosso fica a cargo do Tesouro Nacional, Bacen
e Receita Federal, únicos órgãos que “funcionam”.
Uma soberba de gastos que não está conduzindo o país a parte alguma em termos
práticos. Não há defesa nacional aparelhada, saúde com dignidade, educação
preparadora, segurança pública, justiça ou infra-estrutura. Somente um marasmo
de 37 ministérios e uma miríade de ONG’s desonestas que chafurdam em sua
própria burocracia. Além do básico que não temos em qualidade, o setor
industrial padece ao suster essa celeuma do governo, e tentar manter-se.
A industrialização brasileira está desaparecendo, sofrendo a maior onda de falências,
fusões e aquisições de sua história. Hoje 30% de nossas exportações dependem da
China. E 20% das exportações chinesas dependem da Europa; continente
economicamente moribundo que está racionalizando tudo, já produzindo desaceleração
no país chinês.
Pergunto : - Assim como a massa do universo que é finita, o que
limitará a continuidade de sua expansão, também há uma finitude para a expansão
irresponsável dos gastos públicos. Com uma recessão à nossa porta, e com uma
bomba relógio armada, a explodir entre esse e o próximo governo, poderá a
economia brasileira se recuperar inexistindo um parque industrial robusto e
diversificado, que exporte produtos de qualidade com elevado valor agregado e
tecnológico ?
Eduardo Mendonça de Lima
Economista, Corecon-RS 6.502,
Especializ. Adm. Financeira e
Projetos, pela- FGV. É avaliador
de Empresas
No comments:
Post a Comment