“ Se melhorar, estraga
! ”
O título que encabeça este artigo foi
proferido pelo ministro da Economia, Guido
Mantega, na terceira semana de dezembro, ao relatar o aceitável, mas
reticente, índice de desemprego de novembro de 2011, de 5,2%, obtido pelo IBGE.
Insinuou que uma taxa menor que a divulgada tenderia a “estragar” os bons
números da economia, ao rarefazer a mão-de-obra disponível, elevando salários
por conseqüência (pois ficaria muito abaixo do índice da taxa de desemprego
neutro, entre 6,5% a 8,5%, banda de flutuação ao qual não há interferência
sobre os salários e inflação), produzindo consumo além da oferta da indústria,
impactando nos índices de inflação. Um encadeamento lógico preliminarmente consensual.
Com tal fala, o ministro sugere que o país estaria em situação de “pleno emprego”.
O Pleno Emprego
A expressão Pleno Emprego foi propagada pela Revolução Marginalista e origina-se na Teoria do Equilíbrio Geral, de Walras,
e refere-se à plena utilização dos fatores disponíveis a preços de equilíbrio,
conduzindo a economia a uma condição de equilíbrio. Teve maior difusão na
variável emprego. Para Nicholas kaldor, inexistia pleno emprego porque
este seria “inerentemente instável”, uma vez que se condicionava a políticas
fiscais e/ou monetárias adequadas, cuja perenidade é de difícil manutenção.
Para John Maynard Keynes por meio de
sua Teoria Geral, também se contrapondo, em 1930 negou a certeza de que o pleno
emprego é condição necessária para o equilíbrio econômico. Com a 2ª. Grande
Guerra, o pleno emprego fora atingido, sendo consagrada, a partir dos EUA, uma
taxa mínima equivalente a 3%, que seria perseguida por todas as outras
economias do mundo ao longo dos anos.
Era explicado que esta taxa referia-se a questões sazonais e
peculiaridades de cada setor, como as da agricultura e construção civil, bem
como àquelas pessoas que irremediavelmente se negavam a trabalhar. Neste mesmo
país fora atingida a menor taxa já registrada, de 1,2%, em 1944. Em fins dos
anos 1980 e 1990, a taxa padrão de 3% de pleno emprego foi revista nos meios
acadêmicos, passando-se a adotar 8% como parâmetro de “normalidade” de
desemprego, ao incorporar conceitos de neutralidade quanto à inflação (taxa neutra
ou taxa não inflacionária).
Uma visão
do mundo
Antes da crise de 2008, boa
parcela dos países europeus apresentava índices de desemprego reduzidos.
Atualmente esses índices oscilam entre 8 a 13%, em média, chegando a 20,1% para
a Espanha. Porém há países com taxas muito baixas : - Japão, 5%; Panamá, 4,2%;
Suíça, 3,9%; Coréia do Sul e Brunei, 3,7%; Hong Kong, 2,3%; Singapura e Kuwait,
2,2%; Usbequistão, 1,1%; Tailândia e Bielorússia, 1%; Qatar, 0,5%; Mônaco,
0%. O ponto comum a todos estes países
reside na quantidade de anos de estudo : - Nenhum abaixo de 12 anos. Para a
Coréia do Sul, 17 anos. Austrália e Nova Zelândia possuem incríveis 21 e 19
anos de estudo, respectivamente. Para o Brasil,
7,2 anos, aquém de Botswana (12 anos) e Zimbábwe (9 anos). A partir de
dados do World Countryfactbook, da
CIA, e rápida análise por dados em painel
de 53 países selecionados (entre os quais o Brasil), cada ponto percentual (ou
absoluto) de aumento nas seguintes variáveis promove redução da taxa de
desemprego, em termos absolutos, como segue : - PIB (alto crescimento
ainda é o fator que mais contribui para a redução do desemprego), redução de
0,78; Participação da força de trabalho na área de serviços, 5
milésimos; Investimentos em infra-estrutura como parcela do PIB, cerca de
0,04; e quantidade de anos de estudo, cerca de 0,38. Aos países que não
possuem elevados PIB (pois há
normalmente estabilização em percentuais baixos no longo prazo), o que tende a
sustentar baixos níveis de desemprego é a quantidade de anos de estudo.
Portanto, apesar de nossos gastos como parcela do PIB em educação,
de 5,1%, se equivalerem aos de países ricos, o que precisa ser revolucionada é
nossa pífia e indecente educação, uma vez que um cérebro bem treinado a
escrever e calcular, na falta de oportunidade, gera seu próprio trabalho. Por
hora, o que estraga são os gastos governamentais desmesurados, que alimentam
uma dívida mobiliária crescente. Em 2011
consumiu cerca de R$ 669,52 bilhões em
amortização (principal mais juros, até outubro – dívidas interna, externa, contratual e resgate de
títulos do mercado - fonte : Ipeadata).
Eduardo Mendonça de
Lima
Economista, Corecon-RS 6.502,
especializ.
Adm. Financeira e
Projetos, pela- FGV. É avaliador
de Empresas.
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