Publicado no Jornal do Comércio - RS - em 27dez2013
No mundo da computação a vanguarda reside em “sistemas proféticos”. Baseados em algoritmos, sua função é prever
comportamentos políticos, econômicos e armamentistas de países, de mecanismos de
busca e pesquisa - tais como Bing, Google, Yahoo -, a meteorologia, o consumo e
comportamento humanos, a criminalidade e o tráfego veicular, entre outros. Pela complexidade,
mais se assemelham a oráculos do que a refinamentos matemáticos, e suas
previsibilidades atingem 60 a 90% de acerto. Longe
de pretensões de exatidão numérica, principio algumas idéias a partir de uma conclusão : O Brasil está em recessão ! Ponto. Um PIB menor
que 2% em qualquer lugar do mundo é recessivo, mas o atual governo insiste em
negar, apesar do 1% em 2012. Situação já
iniciada em 2011, e arrastou-se por 2012.
De fora para dentro, o eixo econômico EUA-Europa-Japão-China ainda
enfrentará dificuldades. Os EUA seguem em lenta recuperação, o que ainda levará
anos, ainda mais pela continuidade dos déficits fiscais; somente em 2011 foi de
US$ 1,3 trilhão, tendo crescido 5% em relação a 2010. A recessão na Europa
ainda deverá ser agravada por, agora, França, Itália e Irlanda, através de suas
dívidas mobiliárias na berlinda. Quanto ao comércio internacional, os 34 países
da OCDE são responsáveis por 21% das importações da China, e os EUA por outros 22%
(fonte : WTO 2011). À medida que a participação da Europa diminui comercialmente
pela recessão, mais dependente torna-se a China perante Estados Unidos. Esse
movimento de queda nas exportações chinesas já vinha ocorrendo desde 2010, o
que pressiona o gigante asiático a diminuir sensivelmente as importações de commodities no mundo, principalmente
soja e minérios variados, em que o de ferro afeta diretamente o Brasil. Algo
que impactará os custos sobre o transporte marítimo, pois a modalidade de
confinamento de cargas transportadas por container
representa cerca de 70%, e a
China é responsável pela fabricação e propriedade de cerca de 90% deles no
mundo. Porém, o frete marítimo deverá manter-se estável, haja vista o déficit
mundial de navios mercantes, entre 2004 a 2008, vir sendo normalizado com novos
lançamentos desde 2009. Além de ligeira
queda esperada nos preços do minério de ferro, acredita-se que a soja deverá acompanhar
tal tendência, estendendo-se, por conseguinte, aos fertilizantes, com pressões
inflacionárias sobre os alimentos. Outro aspecto preocupante na economia
chinesa é que a mesma vem mantendo parcela dos altos índices de crescimento através
da construção civil com induzimento pelo governo, e sem respaldo em demanda,
originando metrópoles fantasmas. Um crescimento “comprado” via endividamento, cujo esgotamento será inevitável em futuro próximo e produzirá
consequências preocupantes. Já no Brasil as políticas econômicas do governo
brasileiro vêm incentivando o consumo, onde paliativamente reduz-se o IPI de alguns
setores como automóveis e linha branca, por exemplo. Porém o nível de
endividamento das famílias já produz sinais de exaurimento. Acentuando-se os
problemas fiscais nos países europeus citados, haverá tendência de fuga de
capitais do mercado financeiro nacional, valorizando o dólar norte-americano,
promovendo pressões de alta sobre a taxa Selic. Se por um lado ajudará as
exportações, por outro tornará mais caras as importações, cujo papel até o
presente auxiliou a manter estáveis as taxas inflacionárias, não mais devendo
ocorrer. Caso o país não reverta os baixos índices de investimento em
infraestrutura – energia , transportes, saneamento -, saúde e educação, a
tendência é que continue patinando, sempre dependendo das economias externas.
Nada além se pode dizer sobre o Rio Grande do Sul. Seu modelo agroexportador já
há muito é finito. O índice médio de retorno de exportações é de US$ 1,02/kg :
- Há elevada participação de commodities
agrícolas no total exportado, que precisa ser solucionada pela adoção de pólos
de agroindústria, a fim de que seja agregado valor. Por mais que se exportem
soja e carne em estado bruto, pouco se acrescenta ao preço recebido, impactando
marginalmente sobre as receitas do estado, cujas finanças, dívida e
previdência, novamente estão à baila no atual governo. Este parece ter jogado fora
o equilíbrio obtido pelo governo anterior. Sem falar no conhecido “L” do RS,
uma faixa de subdesenvolvimento que vai de Crissiumal a Uruguaiana, e dessa a
Pelotas. Faixa semi-esquecida e sem políticas consistentes de desenvolvimento. O
que esperar para 2013 ? O mesmo de sempre, até serem resolvidas questões
arraigadas por décadas.
Eduardo
Mendonça de Lima
Economista, Corecon-RS 6.502
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