Houve tempo em que existiu algo denominado "vergonha". Vigorou em toda década de 1970, até pelo menos os anos iniciais de 2010. Décadas antes o melhor termo era "honra". Todos se abstinham ou evitavam associações com qualquer desajustado moral. Prezava-se a ética e a verdade. Buscava-se inspiração em pensadores e profissionais de boas idéias. A lei era lei, e cumprida. E os valores eram relacionados ao bem, em oposição ao mal.
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A vergonha do Apóstolo Paulo |
Em primeiro de fevereiro de 2016, o Conselho Federal de Economia - Cofecon - lançou o manifesto "Superar a Crise política é condição para superação da crise econômica". Em síntese, propõem fórmulas já há muito desgastadas, como recuperar a política de consumo das famílias, estando estas já combalidas, entre outros absurdos e inconsistências econômicas (feitiçaria) e políticas.

Menciona que o legislativo vem apresentando pautas " . . . dissonantes à agenda de enfrentamento da crise patrocinada pelo governo . . .", em que se conclui que quiseram se referir aos encaminhamentos de impeachment pela oposição. Logo em seguida criticam que as medidas de contenção do Gasto Público por meio do orçamento federal, teriam sido, entre "outros erros", exageradas (à época, seriam necessários cerca de R$ 116 bilhões), e que, pasmem, o mais absurdo, teriam levado o país à atual recessão econômica.

Este déficit registrava margem de 14,5% do PIB em 2000, e em evolução crescente foi de 18 % em 2010, tendo sido de 19,4% em 2015. Passou de R$ 174 bilhões para mais de R$ 1,15 trilhão. Já o endividamento era de R$ 511 bilhões em 2000, tendo passado em 2010 para R$ 1,604 trilhão, atingindo R$ 2,650 trilhões em 2015 .
A autarquia acerta ao dizer que o ciclo de alta da taxa de juros realimenta o endividamento, defendendo a redução da relação dívida/PIB e a retomada dos investimentos, bem como "a redução sustentada das taxas de juros da economia". Todavia se esquece de dizer que, uma vez realizado todo o equívoco governamental deficitário, que este precisa ser financiado por emissão de títulos, e que não há como promover a tal redução de juros. É como querer trocar o óleo do motor de um veículo com o mesmo funcionando.
Para ser mais exato, a taxa de juros deveria até estar mais elevada do que o nível em que atualmente se encontra, haja visto que o Bacen não está conseguindo financiar cerca de 30% da DPMF, e que os restantes 70% vem sendo financiados em curtíssimo prazo, de cerca de 3 meses. Logo, títulos de 5, 10, 30 anos de maturação já não são a base do financiamento da dívida, e isso promove uma elevação assustadora do risco financeiro (default). Ainda sobre isso, prega "diminuição do montante pago como serviços e juros da dívida pública" : - O improvável querendo ser possível. Argumenta que seja possível aumentar a ". . . capacidade de investimento do próprio setor público". Ou seja, em vez de defender um Estado menor e menos centralizador e intervencionista na economia, com mais capitalimo e propostas liberalizantes, prefere o Cofecon a defesa justamente do que historicamente é sabido por enganoso. Ataca a política monetária, quando deveria defender uma política fiscal restritiva quanto aos gastos públicos, com base na Teoria de Haavelmo (1).

Para finalizar, sugere um "debate". Mas estamos diante de uma economia destroçada, que precisa de resposta rápida "ao tempo de guerra". Debatendo já está o governo há mais de ano com o plano do ex-ministro Levy. Não posso chamar tal manifesto de pueril, ou que tenha sido articulado por neófitos, embora faltem os mais básicos conhecimentos de História, Geopolítica, Filosofia, Política, da Declaração de Praga (acesse aqui), Direito Constitucional, Direito Público e o mais importante, de Economia.
Mas como muitos aspectos convergem com outros encontrados no recente plano do PT (acesse aqui) de "recuperação" da economia, sou levado a crer que tal posicionamento é intencional. Inexiste responsabilidade objetiva na defesa dos economistas, ferindo preceitos éticos basilares. O conselho federal, de forma vetusta e insidiosa, prejudicou a imagem profissional de toda uma categoria, que aos olhos do empresariado ficará estigmatizada com tão doloso e irresponsável posicionamento. Prova cabal do aparelhamento daquele órgão. Não se trata de polarizações à esquerda ou à direita. Preza-se o livre pensamento próprio dos valores republicanos. Trata-se de coerência e verdade. Eu, como conselheiro efetivo do Corecon-RS, já solicitei a remoção do link deste manifesto da página da nossa representação regional. Apenas silêncio !
(1) - Teorema de Haavelmo ou do orçamento equilibrado è Estipula que se um dado governo
efetuar gastos no mesmo montante dos impostos recolhidos (isto é, condição de
equilíbrio orçamentário), o nível de renda nacional aumentará de forma equivalente tanto em
relação ao aumento dos gastos do governo quanto dos impostos recolhidos. Neste
caso o multiplicador keynesiano será igual a 1.
Eduardo Mendonça de Lima
Corecon-RS 6.502
Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é perito judicial, Avaliador de Empresas e docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia e Valuation.