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Wednesday 18 March 2015

O julgamento de Sócrates

Considerando a atual excrecência e sinismo das autoridades brasileiras, onde até mesmo respeitados magistrados julgam nada existir de anormal ou fatos concretos para uma mudança de governo, resta a nós imaginar o que seria mais concreto do que as confissões daqueles que hoje delatam seus chefes e os recursos desviados da Petrobrás pela operação Lava-Jato da Polícia Federal e Ministério Público.

O que seria preciso ? Um contrato de corrupção registrado em cartório, apresentando José Dirceu como intermediário direto, ou que fosse desenhado num papel uma refinariazinha com uma flexinha com cifrões, revelando uma relação promíscua com lula e dilma (e seu vestido bordado parecendo um botijão de gás com faixa presidencial) ?

Sócrates, a partir de sua atitude, revelou a grandiosidade do que são os termos "ética" e "verdade".  Palavras sem fulcro no atual momento deste país. Onde um presidente de câmara de deputados, no dia anterior, diz que ouvirá a palavra das ruas para tomar uma atitude, para no seguinte negar seu posicionamento.

Onde a lei é, de forma escancarada, negligenciada, o furto governamental torna-se institucionalizado.

Quando uma nação atinge um nível pernicioso de moralidade, resta-lhe suas Forças Armadas por salvaguarda última em defesa da democracia e preservação da ordem e das leis. Este dispositivo está previsto em nosso artigo 142 da Constituição Federal, e não deve ser confundido com ditadura. Mas ainda que seja este o termo, a tal "ditadura" de 1964 a 1984 existiu para pôr ordem na casa, e só quem é ou foi malandro costuma dessa época reclamar.

"Onde não há lei, não há salvação", já dizia Rui Barbosa.  Mas, para além disso, onde não há verdade, não há Deus !  Tenhamos presente este exemplo de retidão moral vivenciado por um dos maiores filósofos da antigüidade.

 

O julgamento de Sócrates

Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470 a.C., e tornou-se um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Filho de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira, tentou seguir a mesma profissão de seu pai enquanto jovem.
Aprendeu Música e Literatura, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa alguma. Não se sabe ao certo quem foram seus professores de Filosofia. O que se sabe é que Sócrates conhecia as doutrinas de Parmênides, Heráclito, Anaxágoras e dos sofistas. 
Desde jovem Sócrates ficou conhecido pela sua coragem e pelo seu intelecto.  Serviu ao Exército, desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão.
Quanto à família podemos dizer que Sócrates não teve, por certo, uma mulher ideal, senão Xântipe.   Xântipe, como esposa de Sócrates, deu-lhe três filhos, e era considerada, pelos padrões culturais da época, uma megera. O próprio Sócrates confirmou que ter aprendido a viver com Xântipe lhe permitiria ser capaz de lidar com qualquer outro ser humano, tal como se um treinador de cavalos, treinado em cavalos mais bravos, pudesse ser mais competente.   No entanto, ela também não teve um marido ideal no filósofo, que sempre estava ocupado com outros cuidados que não os domésticos. Sócrates gostava de ir a simpósios, sessões de convívio acompanhadas de bebida. Era um bebedor de renome, conhecido por permanecer sóbrio mesmo quando todos na festa já estavam completamente embriagados.

Quanto à política, foi ele valoroso soldado e rígido magistrado. Mas, em geral, conservou-se afastado da vida pública e da política contemporânea, que contrastavam com o seu temperamento crítico e com o seu reto juízo. Julgava que devia servir a pátria conforme suas atitudes, vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos, temperados - diversamente dos sofistas, que agiam para o próprio proveito e formavam grandes egoístas, capazes unicamente de se acometerem uns contra os outros e escravizar o próximo.
Entretanto, a liberdade de seus discursos, a feição austera de seu caráter, a sua atitude crítica, irónica e a consequente educação por ele ministrada, criaram descontentamento geral, hostilidade popular, inimizades pessoais, apesar da sua probidade. Diante da tirania popular, bem como de certos elementos reacionários, aparecia Sócrates como chefe de uma aristocracia intelectual. Esse estado de ânimo hostil a Sócrates concretizou-se, tomou forma jurídica, na acusação movida contra ele por Meleto, Anito e Licon, três figuras importantes da época :  - de corromper a mocidade, negar os deuses da pátria introduzindo outros e de "pesquisar debaixo do solo e pelos céus", algo considerado à época como um desafio aos deuses. A defesa que Sócrates faz de si próprio é um libelo contra os que o julgaram. Digno, não pede para ser perdoado. Nesses termos, não resta saída para o tribunal que, na verdade, só pretendia refrear suas atividades. A sua morte é declarada. As autoridades fizeram vistas grossas, mas Sócrates, cidadão ateniense, preferiu não fugir.
A ACUSAÇÃO E A DEFESA
A acusação diz :
Tribunal : - "Sócrates comete crime, investigando indiscretamente as coisas terrenas e as celestes, e tornando mais forte a razão mais débil, e ensinando aos outros".  
Sócrates : -  “Mas nada disso tem fundamento, pois não instruo e nem ganho dinheiro com isso. Talvez pudessem dizer de mim: "Enfim, Sócrates, o que é que você faz? De onde nasceram essas calúnias?”.
Tribunal : - “Se suas ocupações não fossem tão diferentes das dos outros, não teria ganho tal fama e não teriam nascido acusações".
Sócrates : - “Acontece que Xenofonte, uma vez indo a Delfos, ousou interrogar o oráculo e perguntou-lhe se havia alguém mais sábio do que eu. Ora, a pitonisa respondeu que não havia ninguém mais sábio. Ao ouvir isso, pensei : O que queria dizer o deus e qual é o sentido das suas palavras? Sei bem que não sou sábio, nem muito nem pouco. E fiquei por muito tempo sem saber o verdadeiro sentido de suas palavras. Então resolvi investigar a significação do seguinte modo : Fui a um daqueles detentores da sabedoria, com a intenção de refutar, por meio deles, o oráculo e, com tais provas, opor-lhe a minha resposta : Este é mais sábio que eu, enquanto você disse que sou eu o mais sábio. Examinando esse homem - não importa o nome, mas era um dos políticos - e falando com ele, parecia ser um verdadeiro sábio para muitos e, principalmente, para si mesmo. Procurei demonstrar-lhe que ele parecia sábio sem o ser. Daí veio o ódio dele e de muitos dos presentes aqui contra mim.

Então, pus-me a considerar comigo mesmo, que eu sou mais sábio do que esse homem, pois que, nenhum de nós sabe nada de belo e de bom, mas aquele homem acredita saber alguma coisa sem sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, também estou certo de não saber. Parece, pois, que eu seja mais sábio do que ele nisso : não acredito saber aquilo que não sei.

Fui a muitos outros daqueles que possuem ainda mais sabedoria que esse, e me pareceu que todos são a mesma coisa. Daí veio o ódio deste e de muitos outros. E então me aconteceu o seguinte : procurando segundo o critério do deus, pareceu-me que os que tinham mais reputação eram os mais desprovidos, e que os considerados ineptos eram homens mais capazes quanto à sabedoria.

Também procurei os artífices e devo dizer que os achei instruídos em muitas e belas coisas. Eles, realmente, eram dotados de conhecimentos que eu não tinha e eram muito mais sábios do que eu. Contudo, eles tinham o mesmo defeito dos poetas : pelo fato de exercitar bem a própria arte, cada um pretendia ser sapientíssimo, também, nas outras coisas de maior importância e esse erro obscurecia o seu saber.

Dessa investigação, cidadãos atenienses, tanto me originaram calúnias como também me foi atribuída a qualidade de sábio. E totalmente empenhado em tal investigação, não tenho tido tempo de fazer nada de apreciável, nem nos negócios públicos, nem nos privados, mas encontro-me em extrema pobreza, por causa do serviço do deus. Além disso, os jovens, seguindo-me espontaneamente, gostam de ouvir-me examinar os homens. Eles, muitas vezes, me imitam por sua própria conta e decidem também examinar os outros, encontrando grande quantidade daqueles que acreditam saber alguma coisa mas pouco ou nada sabem. Daí, aqueles que são examinados encolerizam-se e, por essa razão, dizem que há um tal Sócrates que corrompe os jovens.

Saibam, quantos o queiram, que por esse motivo sou odiado; e que digo a verdade, e que tal é a calúnia contra mim e tais são as causas.

Cidadãos de Atenas, creio que vocês não têm nenhum bem maior do que este meu serviço do deus. Por toda a parte eu vou persuadindo a todos, jovens e velhos, a não se preocuparem exclusivamente com o corpo e com as riquezas, como devem se preocupar com a alma, para que ela seja o melhor possível. Absolvendo-me ou não, não farei outra coisa, nem que tenha de morrer muitas vezes. Dessa forma, parece que o deus me designou à cidade com a tarefa de despertar, persuadir e repreender cada um de vocês, por toda a parte, durante todo o dia. É possível que vocês, irritados como aqueles que são despertados quando no melhor do sono, levianamente me condenem à morte, para dormirem o resto da vida”.



A CONDENAÇÃO

Sócrates : “A minha impassibilidade, cidadãos de Atenas, diante da minha condenação deriva, entre muitas razões, que eu contava com isso, e até me espanto do número de votos dos dois partidos. Por mim, não acreditava que a diferença fosse assim pequena.


Os meus acusadores pedem, para mim, a pena de morte. Que pena ou multa mereço eu? O que convém a um pobre benemérito que tem necessidade de estar em paz para lhes poder exortar ao caminho reto? Para um homem assim conviria que fosse nutrido e mantido pelo Estado. Por não terem esperado um pouco mais, vocês irão obter a fama e a acusação de haverem sido os assassinos de um sábio, de Sócrates. Pois bem, se tivessem esperado um pouco de tempo, a coisa seria resolvida por si mesma : vejam vocês a minha idade.
Talvez, senhores, o difícil não seja fugir da morte. Bem mais difícil é fugir da maldade, que corre mais veloz que a morte. Eu, preguiçoso e velho, fui apanhado pela mais lenta : a morte. Já os meus acusadores, válidos e leves, foram apanhados pela mais veloz : a maldade.
Assim, eu me vejo condenado à morte por vocês; vocês, condenados de verdade, criminosos de improbidade e de injustiça. Eu estou dentro da minha pena, vocês dentro da sua.
E estamos longe de julgar retamente, quando pensamos que a morte é um mal. Porque morrer é uma destas duas coisas : ou o morto não tem absolutamente nenhuma existência, nenhuma consciência do que quer que seja; ou, como se costuma dizer, a morte é uma mudança de existência e uma migração deste lugar para outro.
Se, de fato, não há sensação alguma, mas é como um sono, a morte é como um presente, porquanto todo o tempo se resume em uma única noite.
Se a morte, porém, é como uma passagem deste para outro lugar e se lá se encontram todos os mortos, qual o bem que poderia existir maior do que este? Quero morrer muitas vezes, se isso é verdade, pois para mim a conversação acolá seria maravilhosa. Isso constituiria indescritível felicidade.
Vocês devem considerar esta única verdade : que não é possível haver algum mal para um homem de bem, nem durante sua vida, nem depois de morto. Por isso mesmo, o que aconteceu hoje a mim não é devido ao acaso, mas é a prova de que para mim era melhor morrer agora e ser liberto das coisas deste mundo. Por essa razão não estou zangado com aqueles que votaram contra mim, nem contra meus acusadores.
Mas já é hora de irmos : eu para a morte, e vocês para viverem. Mas quem vai para melhor sorte é segredo, exceto para Deus”.
Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere, o discípulo Criton preparou e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com amigos e admiradores. Suas últimas palavras dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido tranqüilamente a cicuta, foram : "Devemos um galo a Esculápio".   É que o deus da medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte. Morreu Sócrates em 399 a.C. com 71 anos de idade, em Atenas.

Wednesday 7 January 2015

" Se melhorar, estraga ! "

Publicado no Jornal do Comércio - RS - dezembro de 2011



“ Se melhorar, estraga ! ”

O título que encabeça este artigo foi proferido pelo ministro da Economia, Guido Mantega, na terceira semana de dezembro, ao relatar o aceitável, mas reticente, índice de desemprego de novembro de 2011, de 5,2%, obtido pelo IBGE. Insinuou que uma taxa menor que a divulgada tenderia a “estragar” os bons números da economia, ao rarefazer a mão-de-obra disponível, elevando salários por conseqüência (pois ficaria muito abaixo do índice da taxa de desemprego neutro, entre 6,5% a 8,5%, banda de flutuação ao qual não há interferência sobre os salários e inflação), produzindo consumo além da oferta da indústria, impactando nos índices de inflação. Um encadeamento lógico preliminarmente consensual. Com tal fala, o ministro sugere que o país estaria em situação de “pleno emprego”. 
 

O Pleno Emprego
A expressão Pleno Emprego foi propagada pela Revolução Marginalista e origina-se na Teoria do Equilíbrio Geral, de Walras, e refere-se à plena utilização dos fatores disponíveis a preços de equilíbrio, conduzindo a economia a uma condição de equilíbrio. Teve maior difusão na variável emprego. Para Nicholas kaldor, inexistia pleno emprego porque este seria “inerentemente instável”, uma vez que se condicionava a políticas fiscais e/ou monetárias adequadas, cuja perenidade é de difícil manutenção. Para John Maynard Keynes por meio de sua Teoria Geral, também se contrapondo, em 1930 negou a certeza de que o pleno emprego é condição necessária para o equilíbrio econômico. Com a 2ª. Grande Guerra, o pleno emprego fora atingido, sendo consagrada, a partir dos EUA, uma taxa mínima equivalente a 3%, que seria perseguida por todas as outras economias do mundo ao longo dos anos.  Era explicado que esta taxa referia-se a questões sazonais e peculiaridades de cada setor, como as da agricultura e construção civil, bem como àquelas pessoas que irremediavelmente se negavam a trabalhar. Neste mesmo país fora atingida a menor taxa já registrada, de 1,2%, em 1944. Em fins dos anos 1980 e 1990, a taxa padrão de 3% de pleno emprego foi revista nos meios acadêmicos, passando-se a adotar 8% como parâmetro de “normalidade” de desemprego, ao incorporar conceitos de neutralidade quanto à inflação (taxa neutra ou taxa não inflacionária).
 
Uma visão do mundo
Antes da crise de 2008, boa parcela dos países europeus apresentava índices de desemprego reduzidos. Atualmente esses índices oscilam entre 8 a 13%, em média, chegando a 20,1% para a Espanha. Porém há países com taxas muito baixas : - Japão, 5%; Panamá, 4,2%; Suíça, 3,9%; Coréia do Sul e Brunei, 3,7%; Hong Kong, 2,3%; Singapura e Kuwait, 2,2%; Usbequistão, 1,1%; Tailândia e Bielorússia, 1%; Qatar, 0,5%; Mônaco, 0%.  O ponto comum a todos estes países reside na quantidade de anos de estudo : - Nenhum abaixo de 12 anos. Para a Coréia do Sul, 17 anos. Austrália e Nova Zelândia possuem incríveis 21 e 19 anos de estudo, respectivamente. Para o Brasil, 7,2 anos, aquém de Botswana (12 anos) e Zimbábwe (9 anos). A partir de dados do World Countryfactbook, da CIA, e rápida análise por dados em painel de 53 países selecionados (entre os quais o Brasil), cada ponto percentual (ou absoluto) de aumento nas seguintes variáveis promove redução da taxa de desemprego, em termos absolutos, como segue : - PIB (alto crescimento ainda é o fator que mais contribui para a redução do desemprego), redução de 0,78; Participação da força de trabalho na área de serviços, 5 milésimos; Investimentos em infra-estrutura como parcela do PIB, cerca de 0,04; e quantidade de anos de estudo, cerca de 0,38. Aos países que não possuem elevados PIB (pois há normalmente estabilização em percentuais baixos no longo prazo), o que tende a sustentar baixos níveis de desemprego é a quantidade de anos de estudo. Portanto, apesar de nossos gastos como parcela do PIB em educação, de 5,1%, se equivalerem aos de países ricos, o que precisa ser revolucionada é nossa pífia e indecente educação, uma vez que um cérebro bem treinado a escrever e calcular, na falta de oportunidade, gera seu próprio trabalho. Por hora, o que estraga são os gastos governamentais desmesurados, que alimentam uma dívida mobiliária crescente. Em 2011 consumiu cerca de R$ 669,52 bilhões em amortização (principal mais juros, até outubro – dívidas interna, externa, contratual e resgate de títulos do mercado - fonte : Ipeadata).
 
Eduardo Mendonça de Lima
Economista, Corecon-RS 6.502,
especializ. Adm. Financeira e  
Projetos, pela- FGV. É avaliador
de Empresas.
 
 

 

Monday 5 January 2015

Vale a pena continuar investindo em ações da Petrobras e Vale ?

Considero interessante a leitura por meio do raciocínio do economista Samy Dana, a respeito do mercado acionário e ações da Petrobrás. Neste momento conturbado,  este explica-nos de forma direta e didática como proceder na hora de investir, com a devida estratégia.

Minha opinião ? Petrobrás e Vale apresentam movimentos correlacionados. Os preços de uma puxam os preços da outra. A primeira, estatal; a segunda, privada. Porém, ambas produzem commodities, cujos preços internacionais estão em queda. Ambas respondem (ou pelo menos respondiam) por cerca de 35% de todo fluxo movimentado na Bovespa. 

 
No curto-prazo, um mal negócio. E enquanto permanecer a organização criminosa no comando, pouco ou nada mudará na Petrobrás.  No longo prazo, por ser uma estatal (apesar de quebrada, mas em se estancando sua corrupção), o valor de mercado acionário tenderá à reversão, assim como as commodities. E governos futuros nela investirão, pois é estratégica ao país. Mas para recuperar o prejuízo com a queda de 75% no valor, serão longos anos para igualar o valor perdido, para só então começar a haver algum lucro, sem considerar a inflação do período.

Opte por renda fixa (curto prazo) e ouro (médio e longo prazos).   Imóveis somente ponderando o longo prazo, e se o enfrentamento de uma possível bolha imobiliária não lhe for problema. Entre ter um papel, que, embora possa vir a recuperar o valor, mas é um papel, e um imóvel, cujo valor é determinado por questões geográficas, demográficas e econômicas, pela segurança e caráter material, e não sob a ótica do investimento, é sempre preferível.






Vale a pena continuar investindo em ações
da Petrobras e da Vale?

05/01/2015 02h00

 
Pergunta é de O. S., de Bauru (SP)

Para qualquer investimento na Bolsa, é importante considerar que o real valor da ação é aquele que o mercado está pagando no momento.

Apenas para efeitos tributários são consideradas as variações de preço. Quando é realizado o lucro, paga-se o imposto relativo. Para prejuízos, existe a possibilidade de abatimento em outro ganho.

À parte da ótica dos tributos, não vender é o mesmo que continuar a comprar diariamente ou, em outras palavras, renovar a compra da ação por seu valor atual.
 
Sua ação Vale5, assim como a Bolsa, possui um risco muito elevado. Recomendo que não ultrapasse 10% de seu patrimônio em renda variável, uma vez que o retorno esperado por esses papéis não compensa a alta volatilidade envolvida na aplicação.

 

DIVERSIFIQUE AS AÇÕES
De forma simplificada, pode ser interessante distribuir o investimento em sete ações de setores diferentes, como o bancário, o educacional e o de exportação. Dessa maneira, é possível diversificar a aplicação e diluir o risco.

O investimento em uma única ação contribui para o aumento da probabilidade de perda, pois somam-se os riscos envolvidos na Bolsa e o específico do papel. Por isso, tal formato se mostra bastante desinteressante.

Sua ação Petr4, por sua vez, conta com um risco maior que a média das ações. Isso ocorre tanto pelos recentes fatos e processos sofridos pela Petrobras, como também por se tratar de uma empresa com alta interferência estatal que nem sempre visa os interesses dos investidores.

 

AÇÃO X JURO
Não se pode esquecer que o Brasil é um país de taxas de juros altas, ou seja, um investimento em ações precisa subir consideravelmente para ser mais interessante que a renda fixa de baixo risco.  A Selic (taxa básica de juros) deve atingir 12,5% ao ano ainda no primeiro trimestre. Quando se investe em ações, portanto, perde-se a possibilidade de ganhar esses 12,5%. Assim, caso o investimento em renda variável apresente valorização inferior a esse nível, pode-se considerar que houve perda relativa, sobretudo se ponderado o risco.

 
PROTEÇÃO
Por fim, a estratégia de venda de opções de compra de ações, combinada ao posicionamento nos papéis, possibilita a minimização de riscos, pois limita as perdas e os ganhos. Nessa estratégia, é importante identificar o preço de exercício ideal para que realize um bom lucro caso o papel valorize, ou evite perdas significativas em caso de desvalorização da ação.


 
Samy Dana possui Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. Atualmente é professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV, criador e coordenador do Núcleo de Cultura, Criatividade e Comportamento - GVcult. É consultor de empresas nacionais e internacionais dos setores real e financeiro e de órgãos governamentais. É autor de diversos livros.

 

Saturday 3 January 2015

A junta do Motor - Saramago


 

Há leituras que pouco nos dizem. Mas há aquelas que em suas primeiras linhas nos prendem até ao fim. Pela simplicidade, pela estória conturbada que se nos apresenta, por um caráter poético, talvez, pelo conteúdo, pelo ar contemplativo, por valores envolvidos, por um “descer à alma” do escritor.


Esta pequena leitura de Saramago fez com que eu o admirasse, apesar de ter tido um primeiro contato com suas idéias por meio da película Ensaio sobre a Cegueira, brilhante filme desenvolvido por capital e elenco trinacional (Brasil, Japão e Canadá), dirigido por Fernando Meirelles, de 2008.

Por seu efetivo reconhecimento internacional em favor da prosa em língua portuguesa, em agosto de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, em 1995, com o Prêmio Camões, maior prémio literário da língua portuguesa, em dezembro de 1998 foi elevado ao Grande-Colar da mesma Ordem. Neste mesmo mês de dezembro também recebeu o prêmio Nobel de Literatura.


Após a publicação do “Evangelho segundo Jesus Cristo”, em 1991, começou a ser boicotado em seu país e a sofrer perseguições da Igreja Católica, sendo que em 1993 a publicação de novos livros chegou a ser proibida em Portugal.

Com este feito, e em repúdio, mudou-se para a ilha vulcânica de Lanzarote (Espanha), pertencente ao arquipélago das ilhas Canárias.

Dizia-se ateu, e foi filiado ao partido comunista de Portugal. Isto explica em parte lançar-se à escrita do livro já citado.

O que não percebeu é que, por mais que tenha expressado um olhar diferente, ousado, e para alguns, até ofensivo sobre o sagrado, em realidade sua alma ansiava pela busca do Cristo. Era um humanista acima de tudo, e refletia isso em seus escritos, esquecendo-se que sua busca já estava em sí, pois Deus concede carismas a seus eleitos. O seu era difundir esse humanismo através de seus livros.

Nasceu na cidade de Azinhaga, na região de Golegã, Portugal, em 16 de novembro de 1922. Faleceu no dia 18 de Junho de 2010, aos 87 anos de idade, na sua casa em Lanzarote onde residia com a mulher, vítima de leucemia crônica.



 

 

 
 

Publicado por Fundação José Saramago - Sexta-feira, 28 de Agosto de 2009




A junta do motor

Desde há mais de sessenta anos que eu deveria saber conduzir um automóvel. Conhecia bem, naqueles remotos tempos, o funcionamento de tão generosas máquinas de trabalho e de passeio, desmontava e montava motores, limpava carburadores, afinava válvulas, investigava diferenciais e caixas de mudanças, instalava calços de travões, remendava câmaras de ar furadas, enfim, sob a precária protecção do meu fato-macaco azul que me defendia o melhor que podia das nódoas de óleo, efectuei com razoável eficiência quase todas as operações por que é obrigado a passar um automóvel ou um camião a partir do momento em que entra numa oficina para recuperar a saúde, tanto a mecânica como a eléctrica.

Só faltava que me sentasse um dia atrás do volante a fim de receber do instrutor as lições práticas que deveriam culminar no exame e na sonhada aprovação que me permitiria ingressar na ordem social cada vez mais numerosa dos automobilistas encartados.
 
Contudo, esse dia maravilhoso nunca chegou. Não são apenas os traumas infantis que condicionam e influem a idade adulta, também os que se sofrem na adolescência podem vir a ter consequências desastrosas e, como no presente caso sucedeu, determinar de maneira radicalmente negativa a futura relação do traumatizado com algo tão quotidiano e banal como é um veículo automóvel. Tenho sólidas razões para crer que sou o deplorável resultado de um desses traumas.
 
Mais ainda: por muito paradoxal que a afirmação vá parecer a quem das íntimas conexões entre as causas e os efeitos somente tiver ideias elementares, se nos meus verdes anos não tivesse trabalhado como serralheiro-mecânico numa oficina de automóveis, hoje, provavelmente, saberia conduzir um carro, seria um orgulhoso transportador em lugar de um humilde transportado.
 
Além das operações que comecei por referir, e como parte obrigatória de algumas delas, também substituía as juntas dos motores, essas finas placas forradas de folha de cobre sem as quais seria impossível evitar fugas da mistura gasosa de combustível e ar entre a cabeça do motor e o bloco dos cilindros.
Se a linguagem que estou a usar parecer ridiculamente arcaica aos entendidos em automóveis modernos, mais governados por computadores do que pela cabeça de quem os conduz, a culpa não é minha: falo do que conheci, não do que desconheço, e muita sorte que não me ponha aqui a descrever a estrutura das rodas dos carros de bois e a maneira de atrelar estes animais ao jugo.
 
É matéria igualmente arcaica em que também tive alguma competência). Ora, um dia, depois de ter acabado o trabalho e colocado a junta no seu sítio, depois de ter apertado com a força dos meus dezanove anos as porcas que sujeitavam a cabeça do motor ao bloco, dispus-me a realizar a última fase da operação, isto é, encher de água o radiador.
 
Desenrosquei pois o tampão e comecei a deitar para a boca do radiador a água com que tinha enchido o velho regador que para esse e outros efeitos havia na oficina. Um radiador é um depósito, tem uma capacidade limitada e não aceita nem um mililitro mais do que a quantidade de água que lá caiba. Água que continue a deitar-se-lhe é água que transborda.
 
Algo de estranho, porém, se estava a passar com aquele radiador, a água entrava, entrava, e por mais água que lhe metesse não a via subir dançando até à boca, que seria o sinal de estar acabado o enchimento. A água que já vertera por aquela insaciável garganta abaixo teria bastado para satisfazer dois ou três radiadores de camião, e era como se nada.
 
Às vezes penso que, sessenta e muitos anos passados, ainda hoje estaria a tentar encher aquele tonel das Danaides se em certa altura não me tivesse apercebido de um rumor de água a cair, como se dentro da oficina houvesse uma pequena cascata. Fui ver. Pelo tubo de escape do carro saía um avultado jorro de água que, pouco a pouco, diante dos meus olhos estupefactos, foi diminuindo de caudal até ficar reduzido a umas derradeiras e melancólicas gotas. Que se passara?
 
Tinha colocado mal a junta, tapara entre a cabeça do motor e o bloco o que deveria ter aberto, e, muito mais grave do que isso, facilitara passagens e comunicações onde não deveria havê-las. Nunca cheguei a saber que voltas teve de dar a pobre água para ir sair ao tubo de escape. Nem quero que mo digam agora. Para vergonha bastou. Possivelmente terá sido nesse dia que comecei a pensar em tornar-me escritor. É um ofício em que somos ao mesmo tempo motor, água, volante, mudanças de velocidade e tubo de escape. Talvez, afinal, o trauma tenha valido a pena.
 José Saramago
 
 
 


 

Monday 29 December 2014

Maçonaria às ruas




Quando a maçonaria sai às ruas para protestar, não o faz em vão.  E demonstra a acentuada gravidade da situação política irresponsável conduzida pelo governo federal.  Inclusive talvez esta não fosse a melhor denominação a um governo, chamar de governo. Considerando os envolvimentos de vários ministros, inclusive de novos, com pendências judiciais ou condenações acumuladas, sem falar no ex-presidente e na própria presidente reeleita, creio que a melhor denominação seria organização criminosa, pois ultrapassaram todos os limites legais e possivelmente admitidos.

Milton Friedman




Neste vídeo, Milton Friedman, em meio ao tema sobre distribuição de riqueza, é arguído acerca se um país em situação de inferioridade econômica, no caso a Índia, se antes este país não deveria equalizar-se em termos de potencial econômico frente a um país mais pujante, por exemplo, Estados Unidos, para só então, a partir disso, adentrar ao livre comércio, pois no entendimento da pessoa que pergunta, este país já iniciaria o processo de intercâmbio econômico em desvantagem. Vejam a resposta de Friedman.




Para acionar a legenda traduzida, é necessário ativar tela full screen; em seguida, no ícone que simula uma engrenagem, ativar legendas (subtitles c/c), em inglês; novamente clicar sobre este ícone engrenagem, sobre legendas c/c com o botão esquerdo do mouse, onde aparecerá opção para traduzir. Clicar em traduzir e escolher o idioma português.
 

Sunday 28 December 2014

A Reaganomia brasileira : - Rumo à derrocada

Artigo publicado no Jornal do Comércio - RS, em novembro/2011
 
 
 
Em 1950 o economista canadense Robert Mundell teorizou que, mediante taxas flexíveis de câmbio, a política de combate à inflação menos custosa seria aquela que conciliasse restrição monetária com aumento do déficit público (Modelo Mundell-Fleming).  Nessa proposta, quanto maior o déficit público maior a tendência de elevação da taxa interna de juros, aumentando o fluxo de capitais internacionais, valorizando o câmbio. Em contrapartida, as taxas inflacionárias se reduziriam. Argumento obviamente respeitável no curto prazo.
 
No longo prazo a sobrevalorização cambial inviabiliza exportações. Em 1981 o presidente dos EUA, Ronald Reagan, implementou tais medidas e conduziu os EUA e o mundo a uma recessão mundial (1983) pelo aumento das taxas de juros, derivando o segundo crash da Bolsa de Nova York, em 1987, e ao contágio sistêmico (por moral hazard) de muitos países entre 1994 a 2001 (México, Rússia, Sudeste Asiático, Brasil, Argentina).  
 
 
O caso brasileiro
No Brasil, a implementação dessa estupidez teve início em 2003. É avassalador o volume de gastos. Segue uma trajetória explosiva. Pelos dados do Ipeadata, entre 2000 e setembro de 2011 vem crescendo à média de 7% ao ano acima da arrecadação federal.
 
Em relação ao PIB, os gastos passaram de 21% em 2000 para 29% em 2011. Vem sendo mantida à custa de duas variáveis : - Elevados juros reais (os juros mundiais, descontada a inflação, oscilam entre negativos e 1%) e fluxo de Investimentos Externos DiretosIED. Os juros são mantidos elevados para atrair capitais externos (IED, a maior parte circulando no mercado financeiro), que auxiliam no fechamento das contas a partir da aquisição de títulos do governo (M4 – base monetária mais emissão de títulos).
 
O M4, descontado o M3, configurando apenas a emissão de títulos, já apresenta um volume em torno de R$ 5,481 trilhões (2010), ou 149% do PIB. Em 2011 já atingiu (até setembro) 171% do PIB. Em 2000 correspondia a 83%.
 
Por cálculos próprios, cada variação nos gastos do governo em R$ 1 bilhão, retroalimenta-se a dívida mobiliária em R$ 9,4 bilhões. Cada 1% de elevação da Selic tem-se R$ 232 bilhões de aumento na dívida mobiliária (R$ 19,3 bi/mês).  
 
A amortização dessa dívida variou 13% entre 2009 e 2010. E cada R$ 1 bilhão de aumento nessa variável retroalimenta-se essa mesma dívida em R$ 108 bilhões. Por conseguinte, já foram amortizados R$ 2,611 trilhões (PIB de 2007), de 2000 a 2011 (até setembro).
 
 
 
Desindustrialização     
O mais estarrecedor é que toda a asfixiante carga tributária (cerca de 36% do PIB) supre apenas 30% das necessidades anuais do governo. Os restantes 70% têm de ser cobertos por emissões de títulos; e isso há mais de 11 anos. A excelência administrativa para gerir esse colosso fica a cargo do Tesouro Nacional, Bacen e Receita Federal, únicos órgãos que “funcionam”.
 
Uma soberba de gastos que não está conduzindo o país a parte alguma em termos práticos. Não há defesa nacional aparelhada, saúde com dignidade, educação preparadora, segurança pública, justiça ou infra-estrutura. Somente um marasmo de 37 ministérios e uma miríade de ONG’s desonestas que chafurdam em sua própria burocracia. Além do básico que não temos em qualidade, o setor industrial padece ao suster essa celeuma do governo, e tentar manter-se.  
 
A industrialização brasileira está desaparecendo, sofrendo a maior onda de falências, fusões e aquisições de sua história. Hoje 30% de nossas exportações dependem da China. E 20% das exportações chinesas dependem da Europa; continente economicamente moribundo que está racionalizando tudo, já produzindo desaceleração no país chinês.
Pergunto : - Assim como a massa do universo que é finita, o que limitará a continuidade de sua expansão, também há uma finitude para a expansão irresponsável dos gastos públicos. Com uma recessão à nossa porta, e com uma bomba relógio armada, a explodir entre esse e o próximo governo, poderá a economia brasileira se recuperar inexistindo um parque industrial robusto e diversificado, que exporte produtos de qualidade com elevado valor agregado e tecnológico ?   

Eduardo Mendonça de Lima
Economista, Corecon-RS 6.502,
Especializ. Adm. Financeira e  
Projetos, pela- FGV. É avaliador
de Empresas