NY sunset

NY sunset

Friday 18 March 2016

"Desenvolvimento" por atavismo

Algumas notícias, publicadas no periódico Metro, do dia 15mar2016, terça-feira última, chamaram-me a atenção. Vamos a elas :

Notícia 1 - "Justiça manda prefeitura pagar R$ 0,50 da tarifa".
A passagem de ônibus, segundo as empresas de ônibus, ou consórcios delas, como a Via Leste, alvo da notícia, teria de ser de cerca de R$ 3,75, conforme o edital de licitação estipulado pela prefeitura de Porto Alegre. Porém o PSol (Partido Socialismo e Liberdade), recorreu à justiça para que fosse mantida a tarifa ao valor de R$ 3,25, obtendo êxito. Porém a Via Leste recorreu, conseguindo tutela antecipada sobre o valor anterior, em que a prefeitura foi condenada ao "ressarcimento" (ou ao subsídio, como preferirem) de R$ 0,50 para completar o valor restante até R$ 3,75.


Notícia 2 - "Dúvidas marcam EVU do Cais"
O cais Mauá está desativado há décadas. O governo Yeda Crusius lançou um projeto de revitalização para recuperação da área e sua exploração comercial e turística. O projeto está agora empenhado em função do Estudo de Viabilidade Urbanística - EVU - na prefeitura.  Diz que o secretário está cobrando questionamentos e itens que "desapareceram" do projeto. Da Smurb (Secr. Munic. de Urbanismo) seguirá para a Cauge (Comissão de Análise Urbanística e Gerenciamento). Também dizem que falta uma tal "carta financeira e composição acionária. Reclamam que os regimes urbanísticos da lei municipal 638/2010 vigorariam até dezembro de 2012.


Notícia 3 -  " "Protesto reflete mau humor com a economia", diz Wagner "
Jaques Wagner, ministro de coordenação politica de Dilma Vana Rousseff  alegou que as manifestações nas ruas seriam causadas em função ". . .das vidas das pessoas, ou seja, leia-se 'economia' ".


Notícia 4 - "Proposta da Anac. MPF critica fim da franquia de bagagens"

O Ministério Público Federal de SP pediu informações à Agência de Aviação Civil a respeito de pretensas mudanças nas normas que regulamentam o transporte aéreo no país, em que a agência autoriza as empresas aéreas a cobrarem por quaisquer bagagens despachadas a partir de 2018.

Equívocos de toda natureza em ambas. A primeira, parte-se de um partido pequeno, que por meio populismo impetra ação judicial cujo resultado transforma-se num subsídio que terá de ser arcado pela prefeitura, reduzindo dessa forma a parcela de suas receitas que seriam carreadas para o custeio de educação, saúde e segurança. 

A  justiça estadual também fez sua parte ao acolher a ação populista, assumindo decisão equivocada que impactará os cofres municipais, reduzindo investimentos futuros em outras áreas mais prioritárias, já citadas.

O segundo ponto demonstra também os mesmos percalços, dessa vez envolvendo o PT e PDT com ingerências descabidas e lambanças entre secretaria e comissão na prefeitura municipal. Algo que se estende por anos, demonstrando o vigor do caráter político em detrimento do caráter técnico de análise.  

Imagine, leitor, o cais Mauá em atividade com lojas comerciais, restaurantes e atrações como cinemas ou teatros ? Quanto a cidade tem perdido tanto na atração de consumidores e turistas e na projeção de seu nome em termos regionais e internacionais (vide Puerto Madero, B.As.) ao longo dessas décadas ? Quanto a cidade deixou de arrecadar em impostos que poderiam reverter em investimentos públicos ?

Quanto às duas últimas notícias, as pessoas estão indo às ruas clamar por ordem para a verdadeira democracia. Independentemente se a economia estivesse em seu ponto ideal, a questão é moral, e não econômica. E ao se pagar por um bilhete aéreo, já estão aí incluídos os custos pelo transporte de bagagem até determinado limite de peso. Mais uma medida populista e denotatória de ingerência descabida sobre a economia.


Em todas elas o cerne : -  

1o. O país sobrepuja demasiadamente a questão pública sobre a economia. Enquanto esta questão deveria ser apenas um ponto de solução ao econômico, o Estado assume papel de senhor e mestre sobre todas as questões, travando a economia e atrasando o retorno do capital. Investir num país sob tais circunstâncias torna-se um impeditivo ao fluxo financeiro, pelo elevado custo advindo; 

2o. A influência nefanda do comunismo/socialismo/sindicalismo por meio de partidos não comprometidos com a nação, mas sim com uma ideologia corroída, influenciando importantes questões de investimento e que relutam ao impor cartilha  de debate populista e inócuo, em substituição a questões técnicas e objetivas; 

3o. Por fim, mas não menos importante, a perda de foco do poder judiciário ou de instituições como as agências reguladoras, que deveriam cumprir seu papel em defesa de um país que urge em desenvolver-se, mas que tão somente geram decisões atávicas em defesa de um Estado onipotente, soberbo e ineficiente.





Eduardo Mendonça de Lima
Corecon-RS 6.502
Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é perito judicial e Avaliador de Empresas.








Wednesday 2 March 2016

Paralaxe cognitiva : O Manifesto do Cofecon


Houve tempo em que existiu algo denominado "vergonha". Vigorou em toda década de 1970, até pelo menos os anos iniciais de 2010. Décadas antes o melhor termo era "honra". Todos se abstinham ou evitavam associações com qualquer desajustado moral. Prezava-se a ética e a verdade. Buscava-se inspiração em pensadores e profissionais de boas idéias. A lei era lei, e cumprida. E os valores eram relacionados ao bem, em oposição ao mal. 

A vergonha do Apóstolo Paulo
Mas, e o que seria o mal ? Com base em Fortea (2010 : 267), partindo da definição clássica de São Tomás de Aquino seria “a carência de um bem devido”.  A partir desse questionamento inserimo-nos numa profunda questão filosófica acerca do tema, em que podemos ir desde a idéia de que uma luta em vida até o sacrifício pelos mais elevados valores só faria sentido a partir de uma recompensa post-mortem, até as infinitas variantes de tipos de mal. Mas existe um tipo que é considerado como o pior, conceituado por antonomásia. Não se trata de um caso especial de metonímia, mas a um mal de cunho moral, atrelado à consciência do homem de fazer o mal.

Em primeiro de fevereiro de 2016, o Conselho Federal de Economia - Cofecon - lançou o manifesto  "Superar a Crise política é condição para superação da crise econômica".  Em síntese, propõem fórmulas já há muito desgastadas, como recuperar a política de consumo das famílias, estando estas já combalidas, entre outros absurdos e inconsistências econômicas (feitiçaria) e políticas.

O documento principia com "preocupação" quanto à crise política, que eles, presidente e conselheiros do Cofecon, entendem que vem impactando quanto às variáveis inflação, atividade econômica e emprego e incertezas para quem deseja investir. Para começar, em que pese a correlação de forças entre o político e o econômico existir, a crise política é moral. Sua influência é verdadeira, mas não é preponderante. Mas o Cofecon se esquece de dizer, por conveniência ou outro motivo, que tais variáveis (entre outras) encontravam-se já há uma década em trajetória econômica recessiva. Logo, querendo ou não, mesmo que a questão política estivesse em seu ponto ótimo (se é que isso existe em política), o país seria afetado economicamente da mesma forma.

Menciona que o legislativo vem apresentando pautas " . . . dissonantes à agenda de enfrentamento da crise patrocinada pelo governo . . .", em que se conclui que quiseram se referir aos encaminhamentos de impeachment pela oposição.  Logo em seguida criticam que as medidas de contenção do Gasto Público por meio do orçamento federal, teriam sido, entre "outros erros", exageradas (à época, seriam necessários cerca de R$ 116 bilhões), e que, pasmem, o mais absurdo, teriam levado o país à atual recessão econômica.
Desde 2003 o país delineia trajetória de impacto econômico, em função do crescente aumento do déficit público atrelado a endividamento (Dívida Pública Mobiliária Federal), dos pagamentos de juros e amortizações. Qualquer economista não alienado, ou não marxista (imbecil), têm consciência de que um ajuste fiscal visa à estancar da economia o problema que lhe dá causa. Dessa forma, findo o problema, a economia volta a recuperar sua estabilidade, equalizando inflação e câmbio, e derivadamente, demais variáveis, como investimentos, atividade industrial, consumo, emprego e outras.

Este déficit registrava margem de 14,5% do PIB em 2000, e em evolução crescente foi de 18 % em 2010, tendo sido de 19,4% em 2015. Passou de R$ 174 bilhões para mais de R$ 1,15 trilhão. Já o endividamento era de R$ 511 bilhões em 2000, tendo passado em 2010 para R$ 1,604 trilhão, atingindo R$ 2,650 trilhões em 2015 .


A autarquia acerta ao dizer que o ciclo de alta da taxa de juros realimenta o endividamento, defendendo a redução da relação dívida/PIB e a retomada dos investimentos, bem como "a redução sustentada das taxas de juros da economia". Todavia se esquece de dizer que, uma vez realizado todo o equívoco governamental deficitário, que este precisa ser financiado por emissão de títulos, e que não há como promover a tal redução de juros. É como querer trocar o óleo do motor de um veículo com o mesmo funcionando.

Para ser mais exato, a taxa de juros deveria até estar mais elevada do que o nível em que atualmente se encontra, haja visto que o Bacen não está conseguindo financiar cerca de 30% da DPMF, e que os restantes 70% vem sendo financiados em curtíssimo prazo, de cerca de 3 meses. 

Logo, títulos de 5, 10, 30 anos de maturação já não são a base do financiamento da dívida, e isso promove uma elevação assustadora do risco financeiro (default).  Ainda sobre isso, prega "diminuição do montante pago como serviços e juros da dívida pública" : - O improvável querendo ser possível. Argumenta que seja possível aumentar a ". . . capacidade de investimento do próprio setor público".   Ou seja, em vez de defender um Estado menor e menos centralizador e intervencionista na economia, com mais capitalimo e propostas liberalizantes, prefere o Cofecon a defesa justamente do que historicamente é sabido por enganoso.  Ataca a política monetária, quando deveria defender uma política fiscal restritiva quanto aos gastos públicos, com base na Teoria de Haavelmo (1).  


O país encontra-se governado por uma cleptocracia. Não sem menos, lideranças políticas têm se mobilizado, constitucionalmente, em torno do impeachment. Foram inúmeras peças corruptivas, treze irregularidades fiscais apontadas pelo TCU, suspeição de fraude eleitoral, com comprovada campanha financiada por empreiteira, bem como  diversas irregularidades cometidas contra a lei 1.049/1950 (que define os crimes de responsabilidade do presidente e vice-presidente da República).  Contrariamente à defesa da sociedade e dos economistas, a que se propõem representar, dá-lhes as costas, preferindo abraçar o bandido. Argumenta que essa defesa legítima apresenta ares de "quanto pior, melhor", e que quaisquer atos (legítimos) de defesa do Estado são tentativas subversivas, ou golpe, como preferirem, contra a democracia. Lamentável !


Para finalizar, sugere um "debate". Mas estamos diante de uma economia destroçada, que precisa de resposta rápida "ao tempo de guerra". Debatendo já está o governo há mais de ano com o plano do ex-ministro Levy. Não posso chamar tal manifesto de pueril, ou que tenha sido articulado por neófitos, embora faltem os mais básicos conhecimentos de História, Geopolítica, Filosofia, Política, da Declaração de Praga (acesse aqui),  Direito Constitucional, Direito Público e o mais importante, de Economia.
 
Mas como muitos aspectos convergem com outros encontrados no recente  plano do PT (acesse aqui) de "recuperação" da economia, sou levado a crer que tal posicionamento é intencional.  Inexiste responsabilidade objetiva na defesa dos economistas, ferindo preceitos éticos basilares. O conselho federal, de forma vetusta e insidiosa, prejudicou a imagem profissional de toda uma categoria, que aos olhos do empresariado ficará estigmatizada com tão doloso e irresponsável posicionamento. Prova cabal do aparelhamento daquele órgão. Não se trata de polarizações à esquerda ou à direita. Preza-se o livre pensamento próprio dos valores republicanos. Trata-se de coerência e verdadeEu, como conselheiro efetivo do Corecon-RS, já solicitei a remoção do link deste manifesto da página da nossa representação regional. Apenas silêncio !
 



(1) - Teorema de Haavelmo ou do orçamento equilibrado è Estipula que se um dado  governo efetuar gastos no mesmo montante dos impostos recolhidos (isto é, condição de equilíbrio orçamentário), o nível de renda nacional aumentará de forma equivalente tanto em relação ao aumento dos gastos do  governo quanto dos impostos recolhidos. Neste caso o multiplicador keynesiano será igual a 1.




Eduardo Mendonça de Lima
Corecon-RS 6.502
Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é perito judicial, Avaliador de Empresas e docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia e Valuation.







Wednesday 13 May 2015

O compadrio e a destruição do país – Parte I


A inspiração nos surge quando instituições de governo apresentam um mínimo de seriedade e compromisso em querer governar o país adequadamente.
Então nos ocorre a pesquisa, análise e diagnóstico, apontando falhas e meios de suplantá-las.  É, portanto, um debate de idéias propositivas a melhorar o status quo de governo.

Mas o atual governo (PT) exauriu essas possibilidades.

O que vem sendo feito corrompe a boa lógica e práticas esperadas, como questões técnicas, legais e de governança (transparência). Vivenciamos a instauração de um regime comunista, onde vem prevalecendo a pobreza, a mentira, a manipulação, o furto de recursos públicos, a inversão de valores, a degradação da família e das instituições, o compadrio de relacionamentos e outros absurdos em meio ao gramscianismo de Estado.
 
Passo a discorrer sobre um assunto relacionado à falta do uso de arcabouço econômico para a tomada de decisões governamentais em projetos de infra-estrutura, mas que não vem ocorrendo somente aqui, sendo prática corrente em alguns países (China, Itália, Grécia, México, Rússia, Venezuela, Argentina, Bolívia e, mais recentemente, EUA).

É vital a todo projeto, afora tudo o que engloba engenharia civil e mecânica e estudos ambientais, a utilização de ferramental econômico-financeiro para sua viabilização.  Somente a viabilidade econômica poderá atestar as chances de que o projeto trará resultados e benefícios à sociedade dentro daquilo que dele se espera.  De nada adianta colocar sobre o papel a engenharia em todo o seu esplendor, para obras colossais.  Pois edificar é somente uma das questões. Operar o colosso e mantê-lo funcionando é a questão chave.

Pois essa questão do mandar fazer e depois ver o que a acontece, em meio a quem você conhece atende pelo termo de compadrio ou capitalismo mercantilista. 

Em alguns países trata-se de uma questão cultural.  Já em outros, decorre da infiltração de prática perniciosa e criminosa.  Em ambos os caso decorre do abandono da questão técnica, demorada e custosa, em favor de um processo mais ágil e menos oneroso, mas que invariavelmente produz custos exponencialmente maiores adiante.

Comecemos com o caso japonês.

Em praticamente toda a Ásia esse fenômeno é comum. Consiste no conhecer alguém que te abra portas, te financie ou avalize em diversas transações.  São três os tipos de relação de compadrio : - O modelo baseado na família; o de relações sociais e o de relações políticas.
 
No primeiro, baseado na família, grupos familiares se unem por meio de casamentos entre seus membros, e a partir disso passam a conduzir os negócios como sendo o negócio de uma família em complementação ao negócio da outra.
 
Gera-se dessa forma mecanismos de oligopolização ou até mesmo de monopolização com o passar do tempo.  No modelo de relações sociais o procedimento é similar, em que relações de amizade oportunas garantem o crescimento de empresas menores associadas a empresas maiores pelo acesso a determinados mercados ou nichos específicos, assim como facilitação ao acesso a empréstimos bancários.
Já o modelo de relações políticas é o mais danoso de todos, pois permite o acesso das empresas maiores, que realizam o compadrio com as empresas menores e com as famílias, ao governo. Junto a este, corrompe políticos e servidores, viciando todo o sistema burocrático para obter empréstimos subsidiados para o financiamento de seus projetos, repassando parcela às empresas menores e famílias a juros maiores, ou para forçar ao governo que realize obras que venham a beneficiar primeira ou unicamente a elas próprias, em detrimento de toda a nação.
 
O Japão, emergido da segunda guerra com vultosas somas originadas pelo plano Mashall, foi considerado uma superpotência econômica em 1980. No início de 1990 estava tão sobrepujado em sua riqueza que houve um boom imobiliário na Califórnia impulsionado por capitais daquele país. Eram comuns as charges em periódicos norte-americanos expressando esse reflexo. Mas uma em especial, publicada na Newsweek, era a de japoneses querendo comprar o estado inteiro da Califórnia.  

Esse tipo de relações gerou uma série de negócios voltados ao comércio de mercadorias, em que uma miríade de empréstimos bancários impulsionou exportações baratas (de produtos de baixo valor agregado – bugigangas de plástico e eletrônicos de baixa tecnologia) - sem que houvesse o devido mérito ao planejamento desses negócios.
 
As taxas de crescimento de sua economia eram elevadas, ano a ano. Mas esse crescimento estava menos relacionado à forma como tudo era gerenciado do que propriamente com a questão bancária.  Embora a rede bancária fosse regulamentada pelo governo, o pagamento de taxas de juros era extremamente baixo. Naquela época os japoneses ainda não detinham nenhum sistema público de aposentadoria, e estes planejavam-na com base em poupança pessoal junto à rede bancária.  Nesse sentido, o dinheiro era farto, com juros muito baixos, e emprestado, com base nos relacionamentos (fazendo com que inexistisse um mercado real), tornando a qualidade dos empréstimos bastante arriscada.
 
Dessa forma milhares de negócios foram abertos no Japão, onde a taxa de retorno não importava, mas sim a manutenção dos fluxos de caixa que mantinham as empresas maiores e os bancos operando, e assim pagando suas dívidas. Essa natureza operacional fez do Japão o país com a menor média de retorno sobre o capital entre os países industrializados. Porém, devido ao volume de empresas e empréstimos envolvidos, fazia com que a economia como um todo expressasse altas taxas de crescimento, até mesmo em função de como tudo fora estruturado, voltado para as exportações.
 

Dessa forma, foi criada uma espiral ascendente, pois as exportações de baixo custo foram impulsionadas, demandando mais dinheiro por empréstimos, gerando mais fluxo de caixa que proporcionava a continuidade do pagamento de grandes empresas e bancos, que continuavam a fomentar mais exportações. A economia crescia, porém, sem consistência econômica, lembrando um castelo de cartas prestes a ruir.
 

Em realidade, tratava-se da instalação de um Efeito Ponzi (1)  na economia.   Porque nos primeiros empréstimos, ainda que baseados em relacionamento, os tomadores com grau mais estreito de relacionamento tinham maior capacidade de desempenhar algum resultado comparativamente aos demais vindos posteriormente e à medida que a espiral avançava. Assim, os próximos tomadores de empréstimos tornavam-se mais arriscados, e com maior propensão ao risco de não honrar seus compromissos.
 
Mas não somente isso. Ao passo que aumentava a oferta de produtos exportáveis, assim como sua quantidade, as margens de lucratividade eram cada vez menores.  Dessa forma a estrutura da dívida foi se robustecendo, chegando ao ponto de se tornar impossível sua continuidade, assim como administrá-la, pois as exportações já não eram mais suficientes. 
 
Em fins de 1990 a economia japonesa iniciou seu colapso.  Os bancos começaram a falir. Mas em vez de ser gerado um quadro de depressão econômica, impondo a disciplina necessária, os bancos restantes foram salvos pelo governo. Isso explica o porquê de não ter havido um mal maior. Mas também explica as baixas taxas de crescimento que vêm se mantendo até hoje.  Em outras palavras, a depressão econômica, com um quadro de falências generalizadas por toda a economia, foi evitado, mas não um quadro recessivo que se estende até o presente momento, 2015.



Eduardo Mendonça
Economista - 6.502
Avaliador de Empresas

 
(1) – Situação de um devedor que, para pagar as dívidas passadas contrai mais dívidas no presente. Refere-se a Charles Ponzi, estelionatário ítalo-americano que, durante os anos 1920 prometia pagar taxas de juros extraordinariamente elevadas para quem lhe emprestasse dinheiro, e pagava essas dívidas com novos endividamentos, até quebrar. Essa experiência cunhou o termo através das finanças de um país com as mesmas características.

Monday 11 May 2015

As Democracias Ditatoriais


Artigo publicado no Jornal do Comércio - outubro/2012
 
 
O artigo anterior pautou-se na regulação financeira dos mercados. Concluiu-se pela não regulação das operações e que houvesse um fundo garantidor de crises futuras, mas que haja fiscalização sobre a alavancagem bancária, cerne do mercado financeiro, cuja pirâmide invertida tornou-se uma completa incerteza, a cujas operações o risco tem sido sistematicamente negligenciado.
 
Nesse sentido, toda celeuma financeira atinge a economia real, em que quadros recessivos, ou até de depressão econômica, passam a manifestar restrições ao comércio internacional em proteção ao mercado interno, culminando em arroubos nacionalistas quanto à política.
 
Assim o foi em 1929, conduzindo nações à II Guerra. O tem sido agora, com a Europa clamando por socialismo, com radicalização neonazista na Grécia. Também com os Estados Unidos cismando para invadir o Irã – mas como está em ano eleitoral contém-se com a CIA propagando a Primavera Árabe, agora na Síria.
 
Não tem sido muito diferente na América Latina. Porém, aqui não é preciso muito para que ações controversas ocorram. Caudilhista por natureza, a cultura da região simpatiza com condutas ferrenhas de seus líderes. Campo fértil ao populismo e à demagogia. Diferentemente dos déspotas esclarecidos do séc. XVIII, os déspotas bananeiros agem em total ignorância às consequências de seus atos, sejam jurídicas, diplomáticas ou, principalmente, econômicas.
 
Nos primeiros sinais de balança comercial negativa, restringem, obstam ou subvertem a economia, as leis e a informação. A Venezuela, hoje stalinista, vem sendo governada por Maduro, com total intervenção do estado na economia, perseguição à opositores, fechamento de canais de televisão e censura à imprensa; Na Argentina o Cristinismo Kirchnerista estatiza empresas e fecha-se ao comércio internacional enquanto impõem limites à imprensa e determina preços de produtos e serviços, manipulando-os.
Na Bolívia, além de uma refinaria brasileira estatizada, o governo pauta sua conduta segundo índios cocaleiros, com perseguição à opositores; Já o Paraguai incentivava a invasão da propriedade privada quando seu presidente foi deposto e um cívil foi conduzido ao poder); No Equador, idem, invasões de propriedades privadas; Honduras caminhava para uma reelaboração constitucional e restrição midiática - seu presidente foi deposto;
 
No Brasil temos desordem e esculhambação desenfreadas, começando pelo MST que é financiado pelo governo, em meio a outros absurdos, tais como : - Censura à mídia; invasão de propriedade estatuída em lei de “direitos humanos”; projeto de restrição à internet; controle do judiciário pelo CNJ; perda de reputação do sistema de informações brasileiro (Abin) perante Interpol, NSA e MI6; rompimento de acordos comerciais e diplomáticos com México, Itália e Mercosul; retrocesso diplomático e dissonante ao bom senso internacional; e mensalão para financiar um “projeto” de longo prazo para implantação de um regime comunista permanente (gramscianismo).
 
Todos esses exemplos negativos de atuação do Estado tendem a afugentar o Investimento Externo DiretoIED do tipo greenfield (produtivo), variável econômica que mais tem impulsionado países ao desenvolvimento, ou à sua manutenção. Pela Paridade de Poder de Compra (custos praticados pelos Estados Unidos, cujo índice é igual a 100), estes países possuem custo médio de investimento 30 a 50% do observado por países desenvolvidos (média 115), e abaixo da média geral de 75,95, tornando-os muito viáveis e atrativos a investimentos e lucros, mas desperdiçam essa vantagem, que não perdurará.
 

Numa rápida análise de dados em cross-section para 26 países e 12 variáveis, com cinco consideradas significativas, revelaram que o IED tende a comportar-se inversamente a posturas anti-democráticas, em média com redução de 181%, revertendo o processo para gerar  fuga de capitais. De cada US$ 1,00 investido em infra-estrutura, há retorno de 2,85% a cada país; exportações e importações funcionam atraindo e repelindo, respectivamente, porém com retornos infinitesimais, e cada percentual de variação do PIB atua positivamente com 2,84% de acréscimo para os países.
 
Como dito por Hayek, na conclusão do clássico “O caminho da Servidão”, “... uma política de liberdade para o indivíduo é a única política que de fato conduz ao progresso ...”, asseguro que é tão verdadeiro e atual quanto qualquer ideologia furada.

 
Eduardo Mendonça de Lima
Economista, Corecon-RS 6.502
 
 
 
 
 
 
 

Thursday 30 April 2015

Regulamentação Financeira


(publicado no Jornal do Comércio - 2012)

Vivenciamos o derretimento europeu após 4 anos do sub-prime de 2008, cujo epicentro foi a China, em 2007. Alguns países desse continente já se reconverteram ao socialismo, face ao muito que se tem discutido sobre o as falhas do capitalismo, que modelos socializantes deveriam ser revistos; ou que a culpa é das bruxas de Salem. Críticos e oportunistas de variadas ideologias e profissões têm se manifestado.
 
em 1931 o economista russo Ievguêni Preobrajenski, no livro O Declínio do Capitalismo, manifestou o caráter crítico por que passava o capitalismo a partir de 1929, sem contudo afirmar que seria uma crise final ou terminal do sistema. Porém o que mais continua sendo suscitado relaciona-se à regulação financeira.

O principal motivo para a existência das bolsas de valores é a evolução populacional e suas inúmeras demandas, cuja evolução tem sido a passos muito largos : - 1 bilhão de pessoas em 1820; 2 bilhões em 1930; 3 bilhões em 1960; 4 bilhões em 1974; 5 bilhões em 1987; 6 bilhões em 1999 e 7 bilhões em 2011.  Como visto, o bilhão populacional é atingido em prazos cada vez mais curtos em virtude da progressão geométrica. Como a taxa mundial de crescimento é de 1.092% ao ano, o próximo bilhão deverá ocorrer em 12 anos, previsto para 2023 : - Seremos 8 bilhões. É condição sine qua non que a taxa de crescimento econômico, descontada a inflação, seja ao menos igual à taxa de crescimento populacional.
 
Por sua vez os setores público e privado precisam investir reiteradamente, cuja captação de recursos acaba, direta ou indiretamente, se originando em mercados financeiros.
 
A primeira bolsa de valores oficial se deu em 1602, em Amsterdã, por meio da Companhia das Índias. Independente disso, os primeiros relatos históricos documentados de dinheiro a juros remanescem a 1772 a.C., no código de Hammurabi, na Mesopotâmia (atual Iraque e imediações). Em 390 a.C., na República de Roma, o termo ações era de relato comum pela Societates Publicanorum.
 
Em 1158 o fomento mercartil foi amplamente desenvolvido pela Liga Hanseática, a partir da associação de cidades mercantis do norte da Europa e Báltico. Entre 1262 a 1379, as cidades-Estado de Gênova e Veneza também emitiram ações para custeamento de suas guerras. E por último, a Igreja Católica, a partir da Santa Sé, ao financiar as Cruzadas e parte das descobertas ao novo mundo, sob a garantia de recebimento de terras e tesouros minerais arrecadados.   


Da idade média aos tempos atuais, o mercado financeiro mundial, com sua complexa engenharia financeira, tornou-se uma gigantesca pirâmide de cabeça para baixo cujo vértice, que a apóia, é a economia real. O grau de alavancagem financeira, além das recorrentes fraudes, é o principal foco dos problemas. Até 1860 os bancos norte-americanos eram obrigados a manter lastro em capital ou ativos acima de 40% de seus depósitos para garantia de suas notas. Em 1900 a exigência já havia caído para cerca de 20%; em 1925 para 12%; e menos de 10% até o final dos anos 1980/90. Estima-se em 5% atualmente, baseada em fina matemática e estatística de probabilidade. Para prover um mínimo regramento, surgiram os acordos de Basiléia I e II, e em 2010, o Basiléia III.
 
O segundo acordo prevê uma “absorção” da iliquidez bancária imediata primeiramente no seio do sistema bancário comercial, para posteriormente recorrer-se a um banco central. Foi implementado por poucos países, entre eles o Brasil. Os EUA não o haviam executado até 2008. O terceiro triplica a retenção por um banco do chamado “capital de qualidade”, isto é, aumenta o percentual de reservas e a gestão de risco.  Nesse mesmo país fora cogitada nos anos 1990 a regulação e fiscalização sobre as operações em bolsa. Impossível, pois, somente na NYSE (Bolsa de Nova York), são processadas mais de 2 milhões de operações diárias (Greenspan, 2008:474).
 
O mercado se regula pela vigilância da contraparte. Mas um paliativo crível seria a formação de um fundo com taxas entre 0,2% a 0,4% por operação, para custeio futuro de crises, além de revisão mais dinâmica e periódica de leis corruptivas visando eficácia punitiva, bem como a melhoria continuada de conceitos gerenciais, computacionais e, principalmente, da observação constante de parâmetros econômicos com respectiva fiscalização eficaz do sistema bancário.
O capitalismo continuará, apesar de suas mazelas e enfrentamentos de ciclos econômicos. A comprovação, face ao comunismo, ocorre tanto por evidenciação histórica (bloco da antiga U.R.S.S.) quanto presente (Cuba, Vietnã do Norte, Coréia do Norte), demonstrando o fracasso deste sistema econômico. China foge à regra, porque foi inteligente justamente ao ter introduzido medidas capitalistas há cerca de 20 anos.


Eduardo Mendonça de Lima
Economista, Corecon-RS 6.502